O BNDES articula a criação de um novo fundo de captação de recursos para projetos de preservação da Amazônia. A intenção do banco é liderar uma agenda verde na região.
Segundo pessoas envolvidas nas conversas que foram ouvidas pela Folha, o Fundo Amazônia é fundamental, mas tem limitações e é considerado um mecanismo que demora a liberar o dinheiro para ser aplicado.
Simultaneamente, o BNDES quer incentivar instituições financeiras internacionais a negarem crédito a quem desmata no Brasil.
A sugestão de vetar recursos financeiros a criminosos ambientais já foi levada ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em reunião ocorrida neste mês no Panamá.
O banco brasileiro de fomento ofereceu ao BID a ferramenta do MapBiomas, que faz o monitoramento via satélite do desmatamento no Brasil. O banco internacional deve enviar representantes ao Brasil em abril. O objetivo é estudar a possibilidade de aplicar a ferramenta do MapBiomas em suas próprias análises de crédito.
Foi com base nos dados do MapBiomas que recentemente o BNDES bloqueouR$ 25 milhões em financiamentos a 58 produtores rurais envolvidos com desmatamentos irregulares – medida que provocou a ira de parlamentares que apoiam o agronegócio. Por isso, a Comissão de Agricultura (CRA) do Senado promoveu uma audiência pública sobre o bloqueio.
Parlamentares cobraram mais “transparência” do banco na concessão de crédito a produtores rurais. A presidente da CRA, senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS), disse que a forma de divulgação do bloqueio pode ter “prejudicado a imagem de produtores rurais que atuam na legalidade”, segundo a Agência Senado.
Representando o BNDES na audiência, o superintendente de Operações e Canais Digitais do banco, Marcelo Porteiro Cardoso, negou que os empréstimos tenham sido negados. “O crédito fica aprovado, e a gente abre a oportunidade para que o produtor rural possa comprovar que aquele desmatamento que a imagem de satélite capturou está respaldado por alguma documentação, que não é irregular. Desde que a ferramenta começou a ser usada, aprovamos mais de 5 mil operações e apenas 58 caíram neste filtro.”
O cerco do BNDES aos desmatadores pode ser parte de um movimento maior do banco de reverter a prioridade que o agronegócio teve no governo Bolsonaro em relação à indústria, informa a Folha. Do total de desembolsos em 2022, de R$ 97,5 bilhões, 22% foram direcionados para a agropecuária (R$ 21,5 bilhões) e 19,6% para a indústria (R$ 19,1 bilhões).
Em tempo: Ação do coletivo Famílias pelo Clima em São Paulo coletou assinaturas para a aprovação de dois projetos de lei de iniciativa popular relacionados à emergência climática no Brasil. Um deles prevê a inclusão da segurança climática como um direito fundamental na Constituição.
O outro determina a destinação de florestas públicas na Amazônia para a proteção dos Povos Indígenas, Quilombolas, pequenos produtores extrativistas e Unidades de Conservação, informa a Agência Brasil.
Texto publicado em CLIMA INFO
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