O sistema que influenciará o desenvolvimento do transporte aéreo na Amazônia dependerá de muito esforço, mas os primeiros passos estão dados. Teremos que ter cuidado para não entrarmos em guerra com as classes menos abastadas ingressando nos aviões, pois enquanto isso não acontecer, não há chances de desenvolver conexões com o interior profundo da Amazônia.
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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Por que voar na Amazônia é importante? Porque tudo é muito distante. Para viabilizar estes voos é necessário um sistema de uma equação complexa e cara: aeroportos, aeródromos, empresas aéreas, combustível, passageiros, frequência, abrangência, interesse e, principalmente, o que fazer. O que vem antes? Impossível afirmar de maneira absoluta, mas o certo é que sem pistas e empresas interessadas em operar na região, esta equação é insolúvel.
A saída para este desafio envolve aproveitar muito bem o que já existe e isso significará usar com intensidade os aeroportos das capitais, de Rio Branco a Macapá, de Boa Vista à Manaus. Cada capital possui um significado e relevância particular, desde que seja dado o real valor para elas. Em Manaus, por exemplo, pode ser sediado um concentrador (ou “hub”) para a região Oeste da Amazônia e Norte da América do Sul, enquanto Belém poderá ser a alternativa para ligação do Nordeste com a região.
Esta solução tem entrado e saído das pautas de políticas públicas ao longo de anos. No passado, havia a desculpa da Infraero não ter recursos, mas com a concessão dos Aeroportos, este pretexto desaparece e surge aí um conjunto amplo de oportunidades. Já começam a existir voos e frequência entre Manaus e Bogotá, permitindo conexões de lá com o mundo, uma vez que ali é uma importante capital. O mesmo pode acontecer com outras cidades semelhantes, como Caiena, Paramaribo, Caracas, La Paz e outras.
O voo com frequência que já existe entre Manaus e o Panamá retrata um pouco destas possibilidades. Alvin Tofler e outros pensadores já destacaram que a grande possiblidade das integrações entre regiões começa com as fronteiras próximas e, para ser “próximo” na imensidão da região, apenas aviões respondem ao que seria esta proximidade. Isso sem falar em outras oportunidades, como a “metade” do caminho para os EUA, em relação ao que seria a partir de São Paulo.
Por outro lado, vivemos em uma cultura que, dia após dia, vem sendo contra as férias. Por mais que exista uma enorme indústria de turismo, que é baseada primariamente em viagens para pessoas em férias, no mundo de hoje está cada dia mais estranho que as pessoas usufruam as suas férias. Nos EUA, por exemplo, não há garantia de férias pagas aos trabalhadores e na União Europeia, apenas 29% dos trabalhadores gozam férias de uma semana longe de casa, em uma redução dos 40% em 2013, segundo apontado pelo jornal Financial Times.
No Brasil possuímos o direito às férias, mas os trabalhadores estão distantes de seu uso intenso para viagens, em função do decrescente poder de compra, em decorrência da inflação e de outras precarizações. A grande oportunidade do turismo começará a ser percebida a partir do turismo interno, antes de ser notada pelo turismo global. Enquanto não tivermos um excedente de remuneração para as populações locais, ou ao menos uma parcela significativa dela, semelhante ao que existe na Europa, não será possível uma indústria reluzente no turismo local.
O turismo advém de uma população que aprecia seus lugares e culturas de tal forma, que influenciará a presença de pessoas do entorno e depois do mundo. Fora disto, não há indústria do turismo vibrante. O sistema que influenciará o desenvolvimento do transporte aéreo na Amazônia dependerá de muito esforço, mas os primeiros passos estão dados.
Teremos que ter cuidado para não entrarmos em guerra com as classes menos abastadas ingressando nos aviões, pois enquanto isso não acontecer, não há chances de desenvolver conexões com o interior profundo da Amazônia. Por fim, valerá ainda a pena observar a crescente conexão feita por aviões que pousam nos rios.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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