Voluntários do projeto de ciência cidadão descobriram as árvores de pau-brasil no Parque Estadual da Pedra Branca
A história da Mata Atlântica na cidade do Rio de Janeiro foi marcada por uma profunda ocupação e devastação. Entre os principais “recursos naturais” da então colônia portuguesa estava uma árvore da qual era possível extrair um corante vermelho e valioso. Séculos de exploração fizeram do pau-brasil, nome que ganhou a espécie (e o país), se tornar rara nas florestas cariocas – assim como em vários outros cantos da Mata Atlântica. Por isso, a descoberta de uma população natural de pau-brasil dentro do Parque Estadual da Pedra Branca, na zona oeste da cidade, não é uma notícia ordinária.
As árvores foram encontradas no núcleo Piraquara (um dos três núcleos em que é dividido o parque estadual), onde estão atrativos como o Aqueduto do Barata, cachoeiras e a Trilha Transcarioca, percurso de aproximadamente 180 km que cruza a cidade do Rio de Janeiro. Foi justamente a trilha, mais especificamente em seu trecho 07, que proporcionou o encontro da população de pau-brasil (Paubrasilia echinata).
“Eu ando muito pelo meu trecho ali [da Trilha Transcarioca] e nós estamos trabalhando num projeto de ciências cidadã chamado Pedra Branca Biodiversity, onde a gente insere registros de diversidade no aplicativo iNaturalist. Então, sempre que estamos caminhando pela trilha, tentamos fazer registros de plantas e de animais. E nós estávamos caminhando no trecho e eu vi algumas plantas muito semelhantes ao pau-brasil, só que eu precisava de um especialista pra confirmar isso para mim”, conta o voluntário Diego Monsores, adotante do trecho 07 e coordenador de Reflorestamento da Transcarioca.
Diego acionou a botânica Patrícia Rosa, doutoranda da Escola Nacional de Botânica Tropical do Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (ENBT/JBRJ), que está realizando um levantamento das populações selvagens de pau-brasil que restaram no estado do Rio de Janeiro e seu status de conservação.
O montanhismo uniu-se então à ciência e Diego e Patrícia foram a campo atrás das árvores. “Combinamos de fazer a trilha do trecho sete e começamos a pesquisar. No local, nós achamos vários indivíduos jovens e, como estávamos numa encosta, começamos a subir pra descobrir quem era a planta mãe dessas demais e foi aí que a gente descobriu um pau-brasil mais antigo”, lembra o coordenador de Reflorestamento da Trilha Transcarioca.
A idade das árvores ainda não pode ser confirmada, já que para isso é necessário realizar uma análise específica – que deve ser feita em breve pela equipe do Jardim Botânico. Uma coisa é certa, garante Patrícia Rosa, é uma população natural, ou seja, não são árvores plantadas pela mão humana.
“O pau-brasil é uma espécie que ocorre em áreas mais secas e lá na Piraquara é um solo raso e bem drenado, então é o típico local de ocorrência de pau-brasil, mas até então não tinha nenhum registro. E foi um achado fenomenal porque essa área da Piraquara é um fragmento muito importante da vertente norte do parque. É o maior. E foi graças a essa nascente do rio Piraquara que foi possível preservar esse fragmento. Porque toda a vertente norte sofreu muito impacto, de corte raso mesmo, de cortar tudo e limpar a área toda. E graças ao rio, que era usado para abastecimento, esse vale foi muito bem preservado”, destaca Diego.
“A descoberta da população na Trilha Transcarioca é um momento de validação de ações de conservação ligadas à tríade: unidades de conservação e voluntariado, trilhas e turismo ecológico, e a ciência de conservação de plantas”, destaca a botânica.
Na plataforma colaborativa do iNaturalist alimentada pelos voluntários é possível navegar por um catálogo virtual da fauna e flora do Parque Estadual da Pedra Branca que, até o momento, somava 790 espécies oriundas de mais de 1.900 observações (acesse aqui).
O pau-brasil é classificado como Em Perigo de extinção justamente pela exploração predatória que saqueou a espécie das florestas da Mata Atlântica, assim como a própria destruição do bioma – o lar do pau-brasil – que foi reduzido a menos de um quinto da sua extensão original.
Agora, a expectativa, conforme conta o coordenador de Reflorestamento da Transcarioca, é coletar sementes desse pau-brasil selvagem para enriquecer a diversidade de áreas que estão em processo de restauração florestal. “Para gente poder repovoar aquele local, né? Como a gente sabe que aquela área propicia o crescimento do pau-brasil, vamos fazer um trabalho de enriquecimento dessa espécie na área que foi reflorestada. Isso é um trabalho que a gente vai fazer num futuro breve, para poder ter uma diversidade genética e aquela população não ficar isolada”, explica.
Fonte: O Eco
Comentários