O governo de Jair Bolsonaro pode ter terminado, mas os efeitos nocivos deixados por sua política de devastação ambiental serão sentidos por bastante tempo no Brasil, principalmente na Amazônia. Em alguns casos, os danos foram tão grandes que dificilmente poderão ser revertidos, mesmo no longo prazo
Fernanda Wenzel escreveu no The Intercept Brasil sobre o avanço da exploração madeireira em uma área equivalente a duas vezes o município de São Paulo (SP) na Gleba João Bento, uma área não destinada localizada no sul do Amazonas, próximo do limite com Rondônia. Nos últimos quatro anos, a fiscalização foi praticamente inexistente nessa região, o que favoreceu a atuação de grileiros e madeireiros.
Árvores derrubadas na Amazônia
Assim, milhões de árvores de espécies como ipê e jatobá foram colocadas ao chão de forma ilegal no coração da floresta amazônica. “Esta região abriga os últimos grandes maciços de floresta que temos na Amazônia, porque o resto já está muito fragmentado”, explicou Antonio Oviedo, pesquisador do Instituto Socioambiental (ISA).
Estima-se que, de 2013 a 2021, foram retirados da Gleba João Bento um estoque de toras de madeira que encheriam cerca de 45 mil caminhões; se formassem uma fila, ela teria 450 km de comprimento, praticamente a distância entre SP e Curitiba (PR) em linha reta. Como resultado, cerca de 295 mil hectares de área florestal nativa nessa área já foram derrubados.
Mesmo com a eventual retomada da fiscalização, o problema não será fácil de ser enfrentado. A reportagem destacou a leniência do governo estadual do Amazonas na emissão de licenças para exploração madeireira em áreas griladas: até mesmo terrenos da União receberam autorização para supressão vegetal das autoridades amazonenses.
Em tempo: Outra parte da “herança maldita” deixada por Bolsonaro na área ambiental é a atuação mais intensa de quadrilhas e facções criminosas no cometimento de crimes ambientais, especialmente na Amazônia.
“Hoje temos no Pará, no Amazonas e nos outros estados [do Norte] a presença do Comando Vermelho, do Primeiro Comando da Capital [PCC] e o surgimento de facções locais e regionais que têm algum tipo de aliança com esses grupos do Sudeste”, explicou o pesquisador Aiala Colares, da Universidade Estadual do Pará (UEPA), à Folha.
Isso ameaça principalmente as comunidades indígenas e quilombolas, historicamente mais vulneráveis e sem proteção governamental, que acabam ficando reféns do crime organizado – como visto em junho passado, depois dos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips no Vale do Javari (AM).
Texto retirado de CLIMA INFO
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