No coração da Amazônia, um movimento vital está ganhando força. Grupos de mulheres indígenas se reúnem, armados não com armas, mas com sementes, buscando restaurar a vegetação nativa e, por extensão, o futuro do Brasil. No centro desta iniciativa está a Rede de Sementes da Bioeconomia Amazônica (Reseba) de Rondônia, uma das mais recentes a juntar-se a esta causa essencial.
A Reseba, uma coalizão de 146 coletoras de seis etnias diferentes, embarcou em uma jornada de 1.600 quilômetros até Nova Xavantina, Mato Grosso, para aprender com a Rede de Sementes do Xingu, o grupo de coleta mais antigo do Brasil. Esta transferência de conhecimento é crucial, uma vez que, sem um programa governamental específico para orientá-las, essas redes dependem da troca de informações para prosperar.
Restaurar a vegetação nativa é mais do que uma causa nobre; é uma necessidade urgente. O Brasil está comprometido com a ambiciosa meta de restaurar 12,5 milhões de hectares de vegetação até 2030. Destes, 4,8 milhões estão na região da Amazônia. E as redes de coleta desempenham um papel crucial nesse objetivo. Como Rubithem Suruí, uma das coletoras da Reseba, coloca: “Adquirir esse conhecimento é crucial para nós”.
Coletoras da Rede de Sementes da Bioeconomia Amazônica (Reseba), criada em meados de 2021, em Rondônia. Foto: Kevin Damasio
Historicamente, muitas dessas comunidades indígenas percebiam as sementes principalmente como insumos para artesanato. No entanto, a iniciativa da Ação Ecológica Guaporé (Ecoporé) mudou essa percepção, apresentando as sementes como um potencial econômico que poderia ser explorado para a restauração. A Ecoporé, uma ONG dedicada à restauração da Amazônia por mais de três décadas, foi fundamental na criação da Reseba.
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima também reconhece a importância desta missão, com planos para desenvolver um programa nacional focado na restauração florestal. A ideia é abordar as lacunas existentes, incentivando o fomento a mercados e o desenvolvimento de mecanismos financeiros adequados.
No entanto, enquanto o governo esboça seus planos, são as redes de coleta, como a Reseba e a Rede do Xingu, que estão fazendo o trabalho no terreno. Em sua essência, estas redes não são apenas sobre a restauração florestal. Eles são sobre o futuro do Brasil e sobre proteger a herança natural do país para as gerações futuras
Sementes de tamboril, uma das 150 espécies coletadas pela Rede de Sementes do Xingu. Nova Xavantina, Mato Grosso. Foto: Kevin Damasio
Rede de Sementes da Bioeconomia Amazônica (Reseba): Uma rede de coletoras indígenas de Rondônia, composta por várias etnias, que viajou para Mato Grosso para aprender com a Rede de Sementes do Xingu, o grupo de coletores mais antigo do Brasil.
Importância das Redes de Coletores: Elas são fundamentais para o Brasil alcançar a meta de restaurar 12,5 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030, com ênfase na Amazônia e no Cerrado.
Educação e Treinamento: A visita a Mato Grosso proporcionou às coletoras da Reseba aprendizado prático sobre como coletar e processar sementes de várias espécies de árvores.
Desafios e Soluções: A colaboração entre as redes permite a troca de conhecimentos e a formação de melhores práticas. A ideia do “elo” serve como uma ponte de comunicação entre os coletores e a rede, garantindo a eficiência e a qualidade das sementes coletadas.
Sucesso da Rede de Sementes do Xingu: Esta rede, criada em 2007, já coletou uma quantidade significativa de sementes e gerou renda para seus membros. Milene Alves destaca o valor da diversidade cultural, parcerias estratégicas e treinamento técnico como razões para o sucesso.
Redário: Uma articulação entre diversas redes brasileiras de coletores de sementes, visando oferecer assistência em áreas como governança, mercado e logística.
Aprendizado e Crescimento: Apesar dos desafios, como a falta de treinamento adequado e problemas anteriores com a qualidade das sementes, a colaboração e o aprendizado contínuo são vistos como fundamentais para o sucesso futuro das redes de coletores.
Lucilene Maparoka Tupari, liderança da aldeia Colorado, na Terra Indígena Rio Branco, e coletora da Rede de Sementes da Bioeconomia Amazônica (Reseba), de Rondônia. Ela segura frutos de baru, espécie nativa do Cerrado. Foto: Kevin Damasio
O artigo destaca a importância da colaboração, educação e capacitação na promoção da restauração florestal e na valorização do conhecimento indígena na conservação ambiental. Estas redes não apenas ajudam a restaurar ecossistemas, mas também fornecem meios de subsistência e fortalecem as comunidades indígenas.
O texto aborda um conjunto de desafios e esforços em prol da recuperação da vegetação nativa e restauração florestal no Brasil, principalmente em contextos de Amazônia e Cerrado. Algumas questões-chave surgem da leitura do texto:
- Iniciativas do Governo: O Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg) tem como objetivo a recuperação da vegetação nativa através da capacitação técnica, melhoramento da cadeia de produção de sementes e mudas, e fomento ao mercado. Mesmo com boas intenções, a implementação real do plano tem enfrentado obstáculos.
- Código Florestal: A lei, embora estabeleça diretrizes para a recuperação de passivos ambientais, enfrenta desafios de adesão por parte dos proprietários rurais. Mudanças recentes tornaram individual o prazo de adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), o que pode desencorajar a adesão.
- Pressão da Agropecuária: O avanço da agropecuária é o principal vetor de desmatamento no Brasil, com consequências para a biodiversidade e equilíbrio ecológico.
- Desafios da Restauração: As iniciativas de restauração enfrentam desafios que vão além do financiamento, incluindo a adesão de proprietários rurais e a resistência de alguns à restauração em virtude de potenciais alterações legislativas.
- Impactos Climáticos: Existe um alerta real sobre o colapso climático na Amazônia, caso a tendência de desmatamento continue. A restauração não é apenas sobre reflorestamento, mas também sobre a reconstituição dos equilíbrios ecológicos e climáticos.
- Iniciativas Locais e Cultura: Há uma menção sobre as iniciativas locais, como as coletoras de sementes, que têm um impacto importante não apenas na recuperação ambiental, mas também em aspectos socioeconômicos, como geração de renda e autonomia para as comunidades, especialmente as mulheres.
O desmatamento e a necessidade de restauração florestal são temas complexos no Brasil, dada a vastidão geográfica do país e a intersecção de interesses econômicos, ambientais e sociais. A solução exige uma abordagem multidisciplinar que envolve política, ciência, economia e ações locais, em colaboração com comunidades e proprietários de terras.
Artigo MONGABAY
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