Áreas protegidas na Amazônia, unidades de conservação e também terras indígenas tiveram aumento drástico nos últimos quatro anos, dados são do Instituto Socioambiental, ISA, e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe.
Dados compilados demonstram o aumento da pressão e o papel exercido pelos territórios para conter o avanço da destruição
O desmatamento no interior das áreas protegidas na Amazônia Legal durante os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro foi 94% maior em comparação com os quatro anos anteriores. É o que revela estudo realizado pelo Instituto Socioambiental (ISA), com dados fornecidos pelo sistema PRODES, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
As Terras Indígenas (TIs) enfrentaram um aumento de 157% no desmatamento durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Outras categorias, tais como Unidades de Conservação (UC) federais de proteção integral e uso sustentável, registraram aumentos de 111% e 116%, respectivamente. Os Territórios Quilombola (TQs) amazônicos registraram um aumento de 13%.
“Este resultado negativo para as Áreas Protegidas é fruto de um esforço persistente de desmonte das políticas de gestão ambiental e de combate ao desmatamento no governo de Jair Bolsonaro. Uma destruição do nosso maior patrimônio socioambiental, que distancia o país cada vez mais de um protagonismo mundial na proteção da natureza”, afirma Antonio Oviedo, um dos pesquisadores do ISA responsáveis pelo estudo.
Os dados apresentados indicam forte pressão ao redor das áreas protegidas, além da intensa pressão por parte de invasores grileiros e garimpeiros. Parte dos efeitos do desmonte, citado por Antonio Oviedo, pode ser observados desde a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Terra Indígena Yanomami (TIY) no último sábado, em Roraima, onde a presença de pelo menos 25 mil garimpeiros vem degradando de forma contínua e crescente – e também com vertiginoso incremento nos últimos quatro anos –, um território habitado por aproximadamente 30 mil indígenas, incluindo indígenas isolados.
O desmatamento no interior das áreas protegidas representa uma fração do desmatamento em termos absolutos e concentrado em regiões críticas. Durante o período de medição do PRODES 2022, o desmatamento no interior das áreas protegidas representou 18,5% do desmatamento total na Amazônia legal, totalizando 214.131,07 hectares. Essa destruição representa mais de 123 milhões de árvores derrubadas.
Apenas 20 (vinte) dos 261 territórios indígenas analisados pelo estudo respondem por 85% do desmatamento total nesta categoria de áreas protegidas. Grande parte desse desmatamento ocorreu na bacia do rio Xingu, onde cinco TIs (Apyterewa, Cachoeira Seca, Ituna/Itatá, Trincheira/Bacajá e Kayapó) responderam por 59,4% do desmatamento registrado nas TIs. Vinte e sete TIs apresentaram aumentos no desmatamento superior a 100% em comparação com o ano anterior, com destaque para as TIs Ituna/Itatá (aumento de 303%), Karipuna (163%), Tenharim Marmelos (160%), Menkragnoti (127%), Panará (174%), Vale do Javari (184%), Parakanã (305%) e Arariboia (437%).
Números evidenciam política falha
Comparando o desmatamento agregado dos quatro anos do atual governo de Jair Bolsonaro (2019 a 2022), com os quatro anos anteriores (2015 a 2018), o desmatamento das UCs federais, de acordo com a nota técnica, apresentou um acréscimo de 119%. Para as UCs de proteção integral e de uso sustentável, os aumentos foram de 111% e 116%, respectivamente. As Áreas de Proteção Ambiental (APA) registraram um aumento de 139%.
O desmatamento das UCs federais está concentrado em nove áreas, que correspondem a 85% das derrubadas registradas. São elas: APA do Tapajós, Flona do Jamanxim, Resex Chico Mendes, Esec da Terra do Meio, Flona de Altamira, Flona de Urupadi, Parna do Jamanxim, Parna Mapinguari e Flona do Amanã.
O documento destaca a Flona de Urupadi, que registrou um aumento de 436% no desmatamento em comparação com o ano anterior. O Parque Nacional Mapinguari, uma UC de proteção integral, registrou um aumento de 140% no desmatamento em comparação com o ano anterior.
As TIs e as UCs federais foram as áreas protegidas mais impactadas durante os últimos quatro anos, aponta o estudo do ISA, que indica o enfraquecimento dos órgãos de fiscalização e controle, especialmente o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável especificamente por proteger, monitorar e fiscalizar as UCs federais.
“Esses órgãos adquiriram uma série de conhecimentos ao longo de décadas, inclusive na relação direta com os territórios e suas populações. Ao enfraquecer o Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente] e o ICMBio – diminuindo drasticamente seu efetivo e orçamento, além de criar missões de GLO (Garantia da Lei e da Ordem na Amazônia), dando protagonismo aos militares para a proteção do bioma amazônico – Bolsonaro dificultou concretamente a proteção às áreas protegidas. Além disso, não havia um trabalho coordenado a partir dos números que seguiram sendo divulgados pelo INPE”, explicou Antonio Oviedo para ((o))eco.
Clique aqui para ler a nota técnica completa do estudo sobre o desmatamento nas áreas protegidas sob Bolsonaro.
Fonte: O Eco
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