Cientistas em Portugal fizeram uma descoberta rara e emocionante: abelhas mumificadas com aproximadamente 3.000 anos. Este achado abre novas perspectivas para entender não apenas o passado entomológico, mas também as mudanças ambientais que afetaram esses insetos ao longo dos milênios.
Normalmente, o que a ciência tem como registro de abelhas antigas são fósseis de suas colmeias. No entanto, os pesquisadores da Universidade de Lisboa descobriram espécimes da tribo Eucerini mumificados em condições incríveis de preservação no sítio arqueológico de Carreira Brava. Este achado é notável não apenas pela raridade, mas também pelos detalhes que ele fornece sobre a antiga ecologia e comportamento desses insetos.
A espécie das abelhas mumificadas e sua importância
As abelhas pertencem à tribo Eucerini, uma subfamília da família Apidae, conhecida em inglês como “long-horned bees” (abelhas-dos-chifres-longos) devido às suas antenas excepcionalmente longas. São insetos solitários que se alimentam de pólen monofloral, geralmente depositado por suas mães nos casulos.
O estado de preservação dessas abelhas era tão impecável que os cientistas puderam determinar não apenas a espécie, mas também o sexo e o tipo específico de pólen que elas consumiam, graças à membrana interna da câmara onde foram encontradas. Esta membrana era feita de um tipo de seda gerada pela abelha-mãe, contendo restos de pólen monoespecífico do tipo Brassicaceae.
Os insetos foram examinados através de tomografia microcomputadorizada de raios-x, uma técnica que permitiu que os casulos ficassem intactos. O município de Odemira auxiliou significativamente na pesquisa, possibilitando a datação por carbono-14, o que forneceu uma base temporal para a descoberta.
O grande mistério: o que causou a mumificação?
Embora a preservação excepcional seja uma dádiva para a ciência, ela também apresenta um mistério. As teorias atuais sugerem que a falta de oxigênio devido a uma possível enchente, ou uma queda brusca de temperatura, poderia ter causado a mumificação. Como havia pólen suficiente para alimentação, as mudanças climáticas abruptas são as suspeitas principais para a morte em massa desses insetos.
A incrível preservação dessas abelhas foi possível graças a uma membrana gerada pela abelha-mãe, que criou um ambiente anaeróbico, isolando os casulos de influências externas. Este polímero orgânico à prova d’água manteve intacto o exoesqueleto de quitina das abelhas, que normalmente se decomporia rapidamente após a morte. Icnofósseis, ou vestígios de fósseis em formato do corpo, foram preservados também devido ao frio excessivo da época.
Mesmo com este evento de morte em massa há milhares de anos, a família Eucera ainda persiste com 25 espécies diferentes em Portugal. Isso evidencia a notável capacidade dessa família de insetos em perseverar e se adaptar a diferentes condições climáticas ao longo de milênios.
Implicações para o futuro
O caso foi publicado no periódico científico “Papers in Palaeontology” e representa um passo significativo na compreensão da resistência e adaptabilidade desses insetos. Essa capacidade de resistir a condições climáticas adversas é exatamente o que os cientistas pretendem entender melhor à medida que continuam a estudar essas abelhas. O conhecimento adquirido poderia ser crucial para a compreensão da resiliência da fauna em face às mudanças climáticas atuais.
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