Os principais resultados mostram uma adesão aos valores democráticos – pelo menos em nível declaratório
A Fundação Tide Setubal e o Instituto Sivis lançam a primeira edição de uma pesquisa que investiga o grau de comprometimento dos empresários brasileiros com a democracia. O objetivo é revelar os aspectos da cultura política do setor empresarial, procurando caracterizar os principais valores, atitudes e comportamentos políticos desses atores-chave da nossa sociedade.
O estudo envolveu 417 empresários brasileiros entre os dias 20 de maio e 8 de julho de 2022. A amostragem utilizada seguiu a proporção de três variáveis-chave para caracterização das empresas: região do País (Sudeste, Sul, Nordeste e Centro-Oeste + Norte), setor (serviço, comércio e indústria) e tamanho (pequena, média e grande). Os resultados também podem ser recortados por gênero, faixa etária e grau de escolaridade.
Confira os principais resultados:
GERAL
- A imensa maioria dos empresários (91%) concorda que, apesar de ter alguns problemas, a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo;
- 74,1% dos empresários estão dispostos ou muito dispostos a mudar de opinião quando confrontados com argumentos convincentes em um debate com adversários políticos;
- A imensa maioria dos empresários (98%) avalia que é importante que haja eleições livres e justas no país para que eles e seus negócios prosperem;
- 79,6% dos entrevistados concordam totalmente ou em parte com a noção de que pessoas aprisionadas são também merecedoras de respeito e dignidade;
- 82,5% da amostra concordou (totalmente ou em parte) que “ninguém deve ser sujeito à tortura, independentemente das circunstâncias”;
- 83,7% consideram “aceitável” ou “muito aceitável” a existência da divergência política;
- “Em tempos difíceis, a mídia não deveria divulgar notícias que prejudiquem o governo ou os políticos que estiverem tentando melhorar a situação do país, mesmo que tais notícias sejam verdadeiras”. A maioria dos empresários (65,1%) discorda (em parte ou totalmente) de tal relativização;
- 81,5% dos empresários concordam totalmente ou em parte que eles também são responsáveis por trabalhar pela solução dos problemas sociais do país.
GÊNERO
- 89% dos empresários do sexo masculino sentem que entendem bem os assuntos políticos mais importantes do País, contra 68% das empresárias do sexo feminino;
- 68% dos empresários do sexo masculino se dizem muito interessados por política, contra 39% das empresárias do sexo feminino;
- A imensa maioria dos empresários (96%) julga que as mulheres devem possuir os mesmos direitos que os homens;
FAIXA ETÁRIA
- 63,8% dos empresários idosos se consideram interessados pela política, contra 48% dos jovens;
- 76,4% dos jovens discordam da relativização da democracia, contra 56,7% dos idosos;
- 88% dos empresários idosos acreditam que ninguém deve ser sujeito à tortura independentemente das circunstâncias, contra 72% dos jovens;
- 48% dos empresários idosos consideram que a meta de proteger a liberdade de expressão no país deveria ser prioritária nos próximos anos, ao passo que 41% dos jovens empresários acreditam que a meta prioritária deveria ser combater a inflação;
- 67% dos empresários idosos estão insatisfeitos com o funcionamento da democracia no Brasil, contra 45% dos jovens empresários;
GRAU DE ESCOLARIDADE
- 85% dos empresários com pós-graduação ou nível de escolaridade acima concordam que pessoas aprisionadas são também merecedoras de respeito e dignidade, contra 67% dos empresários com até ensino superior incompleto;
- 75% dos empresários com pós-graduação ou nível de escolaridade acima relatam que frequentemente dialogam com pessoas com opiniões políticas opostas às deles, contra 58% dos empresários com até ensino superior incompleto;
- Empresários mais escolarizados demonstram interesse substancialmente maior por política em comparação aos menos escolarizados – 72,7% com muito interesse entre os que têm pós-graduação ou nível de escolaridade acima, ante 59,8% entre os que têm até o ensino superior incompleto;
- Empresários altamente escolarizados são mais propensos a rejeitar a relativização da democracia do que aqueles com menor escolaridade – 77,3% de discordância entre os empresários com pós-graduação ou nível de escolaridade acima, ante 61% entre aqueles com até ensino superior incompleto.
REGIONAL
- 95% dos empresários da região Centro-Oeste acreditam que é importante obedecer às leis e ao governo independentemente de os políticos no poder serem aqueles nos quais votaram ou não, contra 82% dos empresários do Nordeste;
- 90% dos empresários da região Centro-Oeste discordam de que, para pessoas como eles, tanto faz ser governado por um regime democrático ou não, contra 77% dos empresários do Norte.
ESG
Sobre a importância para os empresários e suas empresas da discussão que tem ganhado força no mundo corporativo acerca de práticas de cunho ambiental, social e de governança:
42% dos jovens empresários consideram as práticas de cultura organizacional pautadas por confiança e colaboração como as menos importantes do ESG. Para 35% dos empresários adultos, as menos importantes são as de diversidade e tolerância no ambiente de trabalho e para 33% empresários idosos, as de responsabilidade e relacionamento com a comunidade local;
A grande maioria dos empresários considera o ESG de alta importância para suas empresas – 74,2% alegam ser importante ou muito importante. No recorte por faixa etária, os mais velhos se mostram mais adeptos ao ESG do que os mais jovens: 83,1% dos idosos consideram de alta importância, contra 70% dos mais jovens;
A variável de sexo também se mostrou um fator relevante, sendo que 85,1% das empresárias veem mais importância no ESG, ante 72% dos empresários homens;
Os entrevistados também responderam sobre o conjunto de práticas ESG mais importante entre cinco alternativas: Compliance e práticas anticorrupção; Cultura organizacional pautada por confiança e colaboração; Diversidade e tolerância no ambiente de trabalho; Responsabilidade e relacionamento com a comunidade local; Sustentabilidade e proteção do meio ambiente. No geral, 62,4% deles atribuem maior importância ao compliance e às práticas anticorrupção na governança corporativa. Diversidade e tolerância no ambiente de trabalho foi a alternativa considerada menos importante por 32,4% do total de empresários entrevistados.
Texto publicado originalmente em Página 22
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