Um dos símbolos da luta em defesa dos Povos Indígenas Isolados, o indígena conhecido como “Índio do Buraco” foi encontrado morto por agentes da FUNAI na última 3a feira (23/8). Último nativo do Povo Tanaru, ele vivia em isolamento há quase 30 anos, sempre evitando contato com indigenistas.
Indígena Tanaru
De acordo com a FUNAI, o corpo do indígena foi encontrado em uma rede de dormir dentro de sua palhoça localizada na Terra Indígena Tanaru, sem vestígios de ação de outra pessoa nem sinais de violência. A Polícia Federal e peritos do Instituto Nacional de Criminalística (INC) estiveram no local para analisar o corpo.
O “Índio do Buraco” foi avistado pela primeira vez em 1996 pela Frente de Proteção Etnoambiental Guaporé, em Alta Floresta do Oeste (RO). Ele seria o único sobrevivente de um massacre cometido por fazendeiros contra seu povo, de nome desconhecido, um ano antes. Desde então, indigenistas tentaram acompanhar a situação dele, ainda que de longe.
Um dos poucos registros visuais do indígena é de um vídeo de 2018, no qual ele aparece de longe, no meio da vegetação. O apelido se deve a uma prática identificada em palhoças deixadas para trás pelo indígena: a existência de um buraco cavado por ele mesmo, possivelmente por motivação religiosa.
“Ele não confiava em ninguém em sua volta porque viveu várias experiências traumatizantes com os não indígenas. Ele temia pela própria vida. Um conjunto de fatores levou a essa solidão. Há relatos de que indígenas isolados foram mortos na região com veneno misturado à comida.
Acreditamos que, por isso, ele nunca aceitou a comida que deixávamos para ele na mata”, disse o indigenista Marcelo dos Santos, que participou do 1o registro do “Índio do Buraco” nos anos 1990, a Rubens Valente na Pública.
Com a morte do último Tanaru, especialistas estão preocupados com o futuro da Terra que leva o nome da etnia, área com cerca de 8 mil hectares de vegetação preservada.
“O último e lamentável ato que o Estado brasileiro pode fazer, em reconhecimento à bravura desse índio, é manter a Terra Indígena Tanaru como memorial de resistência dos Povos Isolados”, defendeu o também indigenista Antenor Vaz.
O g1 também repercutiu a morte do “Índio do Buraco”.
Em tempo 1: O presidente da FUNAI, Marcelo Xavier, afirmou que encaminhou ofício à Polícia Federal, corporação da qual ele faz parte, pedindo a instauração de um inquérito para apurar seu suposto envolvimento em arrendamento ilegal na Terra Indígena Maraiwatsede (MT).
Na semana passada, a imprensa revelouconversas telefônicas interceptadas pela PF que registraram uma oferta de ajuda de Xavier ao ex-servidor da FUNAI Jussielson Silva, preso por encabeçar o esquema junto com outro servidor e um chefe xavante. “Cabe reiterar que os áudios captados e documentos apresentados foram utilizados de forma descontextualizada no processo, com finalidade exploração midiática e sensacionalista”, criticou Xavier em nota.
Em tempo 2: A Polícia Federal concluiu que a morte do indígena Ari Uru-Eu-Wau-Wau, em abril de 2020, não teria ligação com crimes ambientais e, por essa razão, repassou o caso para a Justiça de Rondônia. A suspeita inicial era de que a morte de Ari teria sido motivada pelo seu trabalho contra o desmatamento e a venda ilegal de madeira de seu território.
No entanto, segundo a PF, os indícios apontam que o suspeito preso pela morte estaria apenas “incomodado” com a presença de Ari na região por um desentendimento anterior. O g1 destacou a conclusão da PF e a reação de lideranças indígenas, que contestam essa interpretação. “Nós temos certeza absoluta que tudo é ligado à invasão das terras dos Uru-Eu-Wau-Wau, que tudo é ligado à falta de proteção do território, à falta de proteção dos Povos Indígenas”, disse a ativista indígena Ivoneide Bandeira.
Texto publicado originalmente por CLIMA INFO
Comentários