Durante o passeio, os viajantes realizam trilhas e conhecem as árvores que originam aromas terapêuticos, além entenderem o processo de extração destilação para o seu uso sustentável.
O orvalho da manhã amazônica se mistura aos inconfundíveis aromas das resinas de Breu (Protium ssp.) e da Copaíba (Copaifera ssp.) em mais um dia de trabalho na miniusina de beneficiamento de óleos amazônicos, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, localizada nos municípios de Itapiranga e São Sebastião do Uatumã – distante 330 quilômetros de Manaus.
O dia será de visitas e recepção calorosa ao grupo da primeira edição do “Tour Aromático da Amazônia” promovido pela iniciativa Aura Cosmética, idealizada pela engenheira química, Ana Luiza Medori, com a farmacêutica, Aline Alves. O apoio à expedição contou com o intermédio da plataforma da Inatú Amazônia, marca coletiva criada a partir de uma parceria com o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) e com associações e cooperativas do Amazonas, para comercializar produtos florestais.
Partindo de Manaus, as incansáveis horas de estrada e barco não tiraram o entusiasmo do curioso grupo de 11 turistas que chegou à comunidade Livramento na RDS Uatumã. Divididos entre aromaterapeutas e profissionais de diversas áreas do conhecimento, os participantes estavam ávidos por uma experiência fora do comum em uma das atividades bastante difundidas em países europeus, mas, com um novo apelo no Turismo de Base Comunitária (TBC) no Amazonas.
Expedição aromática – com os detalhes e roteiro previamente definidos, Louise Lauschner, especialista em cadeias da sociobiodiversidade do Idesam, entende o compromisso da atividade na RDS e a importância de fomentar esse tipo de turismo na região. “O TBC na reserva é uma importante fonte de renda, no entanto, o foco desse turismo costuma ser a pescaria que só é possível entre os meses de agosto e dezembro. O Tour Aromático surge com o objetivo de apresentar novas possibilidades com os cheiros amazônicos, de mostrar a usina que foi desenvolvida pelo Idesam, bem como, a utilização dela pelos comunitários na produção de óleos. Dessa maneira, quem é amante de cheiros e da aromaterapia, pode conhecer de perto o potencial aromático da Amazônia, de conhecer a floresta e visitar o plantio de outras espécies feito por comunitários dentro da RDS”, explica.
De acordo com Ana Luiza Medori, da Aura Cosmética, a ideia inicial era apenas de compras dos óleos amazônicos, mas, tornou-se uma ideia com potencial ainda mais envolvente. “Falando em Amazônia, a gente ama o lugar. Antes da pandemia conversamos com os laboratórios para fazermos bases com as matérias-primas para termos um gel com Aloe Vera, um gel com Copaíba, além de um creme e um shampoo neutro que as empresas vendem e tem carência no mercado. Diante de alguns entraves, a gente pensou no que realmente tínhamos e o tour surge dessa premissa, explica.
“Tínhamos uma expectativa e nos deparamos com os visitantes emocionados com o tour. Foi realmente uma experiência sensorial porque, dentre os participantes havia especialistas na parte de cosmética e psicoaromas, o que tornou o momento completo, pois trouxemos informações de todos os vieses. Os óleos essenciais e óleos graxos, são integrativos porque não tratam farmacologicamente, mas, tratam o emocional e a forma física”, destaca a farmacêutica.
Durante o tour aromático, os viajantes realizam trilhas e conhecem as árvores de breu, de copaíba, de andiroba, de cupuaçu, e de cumaru. O tour possibilita entender o processo de extração e destilação das resinas para o seu uso sustentável.
Potencial turístico – diante das inúmeras possibilidades do TBC, com o modelo é possível trazer novas experiências a partir da conservação do meio ambiente, de culturas tradicionais e do envolvimento de pequenas comunidades, potencializando as atividades de produção e de organização, estruturando uma nova oferta turística local e, consequentemente, criando um leque de as oportunidades de renda no incentivo à qualidade de vida para a comunidade.
“O turismo de base comunitária eu diria que, até hoje, é uma das atividades mais produtivas dentro da RDS do Uatumã, porque ela consegue abranger um número grande de famílias. Só a nossa pousada, aqui, na comunidade do Livramento, a atividade consegue ajudar 100% das famílias com trabalhos diretos e indiretos e na compra de alimentos. A esperança é que essa atividade continue a alavancar para que possamos trabalhar de forma sustentável como é o nosso projeto, assim, inserindo nossas famílias no turismo”, explicou José Monteiro, o Papa, comunitário que transformou sua casa em uma pousada para turistas.
A atividade de turismo na RDS Uatumã vem se estruturando desde 2006, iniciando com definições de regras de uso e identificação do potencial turístico e chegando a acordos para limitação de entrada de barcos e apoio a estruturação de pousadas comunitárias. Por se tratar de um processo democrático, que depende do consentimento e participação das comunidades e do Conselho Deliberativo da reserva, cada passo é tratado de forma coletiva com regras estabelecidas pelas comunidades e conselho.
Sendo um case de enorme potencial, a Inatú Amazônia promove um genuíno impacto social ao mercado nacional, beneficiando pelo menos 1.500 pessoas envolvidas na iniciativa. O Tour Aromático Amazônico é uma promissora parceria que chega para somar às atividades na região.
Sobre a Inatú Amazônia
A marca surgiu como resultado do Projeto Cidades Florestais, realizado pelo Idesam desde 2018 e financiado pelo Fundo Amazônia/BNDES. Atualmente, o selo possui quatro produtos da linha de óleos vegetais em seu portfólio, feitos a partir da copaíba, andiroba, café verde e breu. Por meio da Inatú e a venda destes produtos fracionados, estas famílias extrativistas conseguem chegar ao consumidor final, por intermédio de revendedores, pequenas e médias empresas que queiram ser parceiras da marca.
A marca é administrada pelo Idesam e pelas próprias comunidades ribeirinhas do Amazonas, localizadas na região de Lábrea, Apuí e (RDS) do Uatumã. Além da linha de óleos vegetais, a Inatú ainda conta com linha de objetos de madeira produzidos em uma movelaria familiar e madeira manejada de dois planos de manejo comunitários.
Texto publicado originalmente em IDESAM
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