Apesar do nome, os macacos são vítimas como os humanos.
Com mais de 800 casos notificados no Brasil, a varíola dos macacos tem causado apreensão. Defensores ambientais e profissionais da medicina alertam que, apesar do nome, os macacos não são reservatórios ou transmissores do vírus que causa a doença.
Todas as transmissões identificadas até o momento pelas agências de saúde foram atribuídas à contaminação por transmissão entre pessoas.
“É importante ressaltar que os macacos (primatas não-humanos) não são os ‘vilões’, e sim vítimas como nós (humanos), e não devem sofrer nenhuma retaliação, tais como agressões, mortes, afugentamento, ou quaisquer tipos de maus tratos por parte da população. O receio de contágio por transmissão desta e de outras doenças, como a febre amarela, pela proximidade com os macacos não se justifica”, diz o comunicado da Sociedade Brasileira de Primatologia, lançado ainda em maio – antes do Brasil ter seu primeiro caso confirmado.
Também a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente de São Paulo publicou um comunicado reforçando que os macacos, assim como o homem, são hospedeiros acidentais. “O alerta é importante para que a população tenha consciência de que a espécie não é responsável pela existência do vírus e nem por sua transmissão”, diz o texto.
O estado de São Paulo é o que mais registra diagnósticos.
Casos de ataques
Segundo o Art. 29 da Lei n° 9.605/98 é crime ambiental “Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida”, o que pode gerar pena de seis meses a um ano de detenção, mais multa.
A lei, entretanto, não parece intimidar. Entre 2017 e 2018 houve surto de febre amarela em áreas urbanas e muitos macacos foram mortos e feridos por seres humanos. Já no início do mês de julho, na cidade de Senador Canedo, em Goiás, dois macacos foram encontrados mortos e as autoridades locais desconfiam que foram atacados por moradores devido aos casos da varíola “dos macacos”.
Além de ato cruel e criminoso, vale ressaltar que os primatas fazem parte da nossa biodiversidade, possuem papel fundamental na manutenção das florestas, além de auxiliarem nos serviços ecossistêmicos.
Outro ponto crucial é o desconhecimento de muitos sobre o fato de que os primatas fazem o que é chamado de papel de sentinela. A detecção de macacos mortos por doenças serve de indicador de que algo está ocorrendo em determinada região, o que possibilita o rápido início de ações preventivas antes que a doença em questão se espalhe.
Ao avistar algum macaco doente ou morto, avise aos órgãos de saúde do seu município.
Mas, afinal, o que é a varíola dos macacos?
O Manual MSD, voltado para profissionais de saúde, explica que a varíola do macaco é uma doença rara, causada pelo vírus da varíola símia. É estruturalmente relacionada com o vírus da varíola e causa doença semelhante, mas geralmente mais leve.
O período de incubação da varíola dos macacos é geralmente de seis a 13 dias, mas pode variar de cinco a 21 dias, segundo a OMS.
Além disso, trata-se de uma doença viral e endêmica na África Central e Ocidental.
Como é transmitido?
A transmissão se dá sobretudo pelo contato direto com pessoas infectadas, seja com fluidos corporais, como sangue e pus, secreções respiratórias e contato íntimo – abraços, beijos e sexo. Mas, também pode ocorrer pelo contato com materiais contaminados por tais fluidos ou feridas, como roupas ou lençóis.
Além disso, da mãe para o feto, através da placenta, e da mãe para o bebê, no contato pele a pele, também ocorrem transmissões.
Quais os sintomas?
Os principais sintomas incluem febre, dor de cabeça, dores musculares, dor nas costas, gânglios (linfonodos) inchados, calafrios e exaustão.
Tratamento e Vacina
Ainda não há tratamento específico para a infecção e o período de transmissão da doença termina quando as lesões na pele desaparecem, explica a Dra. Ana Karolina Marinho, membro do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).
Sobre a vacinação, de acordo com o Ministério da Saúde, a vacina contra a varíola tradicional é eficaz também para a varíola dos macacos, mas a OMS explicou que pessoas com 50 anos ou menos podem estar mais suscetíveis já que as campanhas de vacinação contra a varíola foram interrompidas pelo mundo quando a doença foi erradicada em 1980.
Com mais de 16 mil casos notificados no mundo, a OMS declarou a varíola dos macacos como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional. Nesta semana, a União Europeia aprovou a vacina da empresa Bavarian Nordic.
No Brasil, o imunizante ainda não está disponível e o país não tem doses garantidas. Porém, quando houver, seguindo as orientações da OMS, não haverá vacinação em massa, sendo destinadas apenas às pessoas que tiveram contato com alguém infectado.
FONTE: Ciclovivo
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