Em operação da PF acompanhada pelo Ibama, os policiais apreenderam as 15 girafas e investigam supostos maus-tratos aos animais. BioParque nega
O caso das 18 girafas trazidas da África do Sul pelo BioParque (antigo zoológico do Rio de Janeiro) – das quais três morreram num incidente em dezembro de 2021 – ganhou novo episódio nesta quarta-feira (26), nas mãos da Polícia Federal. Em ação acompanha por analistas do Ibama, foram levados dois homens, acusados de maus-tratos aos animais, e apreendidas as 15 girafas, que ficarão sob cuidados do Ibama, que também irá apurar a causa da morte dos três animais.
As girafas estavam em um resort safári, de acordo com a PF, em Mangaratiba, no litoral sul do estado do Rio de Janeiro, a cerca de 100 quilômetros da capital carioca, onde está o BioParque. Na ação, desenvolvida no âmbito de inquérito policial instaurado pela PF, os policiais federais e os analistas ambientais constataram situação de maus-tratos dos animais, de acordo com comunicado oficial da PF. “Diante disso, dois homens, responsáveis pela manutenção dos animais, foram presos, os animais apreendidos e depositados sob cuidados da entidade. O Ibama ficará responsável pela supervisão e adotará todas as providências necessárias para salvaguardar a integridade das girafas”, detalha a nota da PF.
Conforme apurado por ((o))eco, até o momento, as girafas permanecem no mesmo local, em Mangaratiba, pois dado o grande porte do animal – que pode passar de 5 metros de altura – ainda não há um local adequado para recebê-las. O estado do Rio de Janeiro tem um único Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas-RJ), para onde vão animais oriundos de apreensões, porém não há espaço no centro para receber as girafas. A destinação dos animais ainda está indefinida.
Já os dois homens autuados pela PF foram conduzidos à Superintendência da Polícia Federal no Rio, onde foi lavrado termo circunstanciado de ocorrência por maus tratos (cuja pena é de detenção, de três meses a um ano, e multa). A investigação também irá apurar as circunstâncias e a legalidade da importação dos animais, bem como as condições de manutenção e cuidado das girafas.
Em nota de esclarecimento enviada ao ((o))eco, o BioParque do Rio afirmou que as girafas não sofreram maus-tratos. “O BioParque do Rio vem a público se posicionar com veemência a respeito da divulgação do que foi chamado, equivocadamente, de prisão de representantes da empresa no Portobelo Safári. Na tarde desta quarta-feira, dia 26/01, foi realizada uma diligência do IBAMA com apoio da Polícia Federal ao Portobello Safari, onde permanecem em adaptação as girafas. Após a diligência, colaboradores do Bioparque foram conduzidos à Polícia Federal e prestaram os devidos esclarecimentos”, declara a nota da empresa.
Questionado por ((o))eco, a assessoria do BioParque afirma ainda que o grupo de 18 girafas veio de um local autorizado para manejo sustentável e desenvolvimento comunitário com essas espécies na África do Sul, e que a instituição foi devidamente aprovada pelos órgãos competentes brasileiros e sul-africanos. Portanto, “não há ilegalidade no processo de importação” e “toda a logística foi acompanhada por uma equipe técnica especializada em manejo de fauna”, ressalta a nota.
A empresa reforça ainda que a importância da conservação ex situ, ou seja, aquela fora do ambiente natural da espécie, como zoológicos, e que os animais foram trazidos para um programa de conservação da espécie de longo prazo. “Atualmente, existem 16 girafas no país com grau de parentesco genético, o que inviabiliza programa de longo prazo de conservação no Brasil”, aponta o BioParque.
De acordo com a avaliação global da IUCN, as girafas (Giraffa camelopardalis) são consideradas vulneráveis à extinção, com uma população silvestre em forte declínio nos últimos 30 anos.
Sobre a morte das três girafas, a empresa explica em comunicado que: “um grupo de girafas escapou de uma área de manejo, onde ocorre sua adaptação e, após a contenção e retorno às baias, 3 vieram a óbito. As girafas, assim como outros animais, são bastante sensíveis e, por isso, determinadas situações podem levar ao desequilíbrio orgânico do animal. Os projetos de manejo de espécies são operações complexas e envolvem riscos que precisam ser enfrentados em prol da possibilidade de garantir sua restauração e conservação”.
Uma denúncia feita pela ONG Ampara Silvestre, acusa a empresa de não cumprir as normas estabelecidas pelo Ibama para manejo de girafas (IN nº 7/2015), que exige um recinto com pelo menos 600m² de área para cada dois indivíduos, além de outras especificações. “Que está sendo integralmente descumprido, uma vez que 3 animais estão compartilhando uma baia de 40m² e atualmente sem acesso a área externa [desde 14 de dezembro de 2021, de acordo com a denúncia], após a fuga de 6 indivíduos, onde 3 vieram a óbito após a recaptura”, denuncia a ONG que, junto com outras organizações ingressou com uma ação judicial na qual solicita a tutela provisória de urgência para que os envolvidos iniciem imediatamente a construção de recintos com as características exigidas.
Questionada sobre a acusação, a nota do BioParque limitou-se a responder que: “O recinto destinado para as girafas no Portobello safari é de 43.695m². O processo de adaptação dos animais é realizado em três estágios técnicos: 1) adaptação e quarentena no cambiamento (baias), 2) acesso ao primeiro estágio da área externa e 3) conforme a adaptação, acesso a área final de 43.695m². Esse recinto foi aprovado previamente pelas autoridades competentes”, descreve a nota da empresa.
“O responsável técnico do BioParque diz ser um processo de transição, de habituação, o que não tem fundamento algum diante da situação dos animais. Nenhum processo de transição prevê maus-tratos contra os animais. Muito pelo contrário, deveria proporcionar o mínimo possível de alteração da saúde física e de estresse para o animal”, denuncia a ONG Ampara Silvestre em nota divulgada nas suas redes.
Fonte: O Eco
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