Precisamos começar a questionar as opiniões fortes contra a ZFM e contra o meio ambiente e a proteção da Amazônia. Necessário entender que estes entes que têm o nome “mercado”, não possuem face com quem falar, mas um espectro de opiniões em off para jornalistas, não podem seguir a ser um parâmetro de gestão de país.
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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De maneira lenta, gradual e segura a imprensa nacional criou o poder do “mercado”. É nosso quarto poder. Uma pequena flutuação do dólar ou da bolsa de valores é a “resposta do mercado”. Diferente de publicações especializadas estrangeiras, como o Wall Street Journal (EUA), Financial Times ou The Economist (Inglaterra), que até fazem leituras de movimentos diários, mas sempre o colocam em perspectiva de longo prazo, por aqui, o que se faz é assumir pequenas flutuações e volatilidades como se fossem longo prazo. E tiram disto leituras absolutas e não o que elas realmente são: leituras relativas e de impactos, que sempre deveriam ser colocadas num horizonte mais amplo.
Neste imaginário, criado pelo poder paralelo dos leitores da opinião alheia (que se assemelhariam à quiromantes ou praticantes de tarot, não fossem as partes interessadas ou stakeholders tão poderosos, ao contrário de cartas ou mãos inocentes), cria-se um conjunto amplo de discursos, que levam a um pensamento único, com um falso debate público. O que interessa para a Amazônia? É uma prática ESG ou uma prática destruidora? É uma prática sustentável ou uma prática de agricultura? É a proteção do verde ou a sua destruição?
O tal “mercado” tipicamente é contrário à industrialização nacional, pois neste imaginário, deveremos fazer a nossa vocação: ser escravizado para produzir alimentos sem recolher impostos e ofertá-los para o mundo. Isso é ótimo para o estrangeiro e péssimo para nós mesmos: o verdadeiro interesse do tal “mercado” parece ser o de manter a relação de colônia que é tão cara aos países mais ricos. É isso mesmo o que queremos? Parece que não, mas é o que fazemos, quando estes discursos são aceitos.
Ou será que o interesse do nosso mercado é que por aqui tenha uma indústria competitiva? Por que isso não interessaria? Como assim, não é vocação de Manaus produzir motocicletas ou televisores? Faz décadas que os produzimos, com multinacionais globais, de maneira competitiva.
A pergunta deveria ser: como aumentar esta competitividade? Por que ainda tratamos a indústria consolidada da ZFM como um enclave? Como se este mercado que por aqui existe não estivesse ganhando dinheiro faz anos. E, o melhor, ganha dinheiro, gera empregos e muitos impostos. De quais grupos de interesses é o desejo de destruição da ZFM ou da floresta amazônica?
Precisamos começar a questionar as opiniões fortes contra a ZFM e contra o meio ambiente e a proteção da Amazônia. Necessário entender que estes entes que têm o nome “mercado”, não possuem face com quem falar, mas um espectro de opiniões em off para jornalistas, não podem seguir a ser um parâmetro de gestão de país.
Está na hora de o “mercado” ter nome e sobrenome e os interesses da Amazônia e dos Amazônidas começarem a ficar na mesa, minimamente em pé de igualdade com os consensos falsos e de interesses ilegítimos. A indústria que está aqui é consolidada e a floresta também.
Todavia, ambos precisam urgentemente de proteção contra os destruidores – que em geral agem nas sombras, não têm nome, nem sobrenome e usam como o escudo palavras lindas, dentre elas o tal “consenso do mercado”. No consenso do nosso mercado: o Amazonas possui uma tradição industrial e podendo ser muito maior. Que 2023 traga novos setores para o PIM, com muito mais empresas e empregos.
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