O Brasil empobreceu nos últimos 12 anos e a pobreza e a fome voltaram a apresentar taxas crescentes
Por José Eustáquio Diniz Alves- Eco debate
“Brasil: país do futuro com enorme passado pela frente”
(Alves, 2022, adaptado de Stefan Zweig e Millôr Fernandes
Nos 200 anos da Independência, o Brasil deixou de ser um país pequeno, pobre, agrário e rural para se transformar em um país urbano, com forte presença dos setores da indústria e dos serviços, de renda média, além de ter entrado na lista das 10 maiores economias do mundo.
PIB entre 1822 e 2022
Entre 1822 e 2022 a população brasileira cresceu 46,3 vezes, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 704 vezes e a renda per capita cresceu 15,2 vezes, como mostrei no livro “Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI” (Alves, 2022).
Mas o crescimento não foi homogêneo no tempo. A população crescia em torno de 3% ao ano entre 1950 e 1970, caiu para 2,5% na década de 1970, ficou em torno de 1,6% aa entre 1980 e 2010 e abaixo de 1% aa na última década. A economia que cresceu cerca de 7% ao ano entre 1950 e 1980, passou a ter, na média das últimas 4 décadas, um desempenho medíocre.
No governo Juscelino Kubitschek (1956-60), o Brasil vivia na democracia e o PIB cresceu em média 8,1% aa. Nos governos Jânio Quadros e João Goulart (1961-1963), com a crise política gerada pela renúncia presidencial, a média do PIB ficou em 5,3% aa. Na ditadura militar houve o período de maior performance, pois a época do “milagre econômico” (1967-73) apresentou crescimento de 11,4% aa. Porém, a primeira recessão em 50 anos, após a crise dos anos 1930, ocorreu entre 1981 e 1983. Na média do regime autoritário (1964-84), o crescimento do PIB ficou em 6,5% aa, valor menor do que no período JK, como mostra o gráfico abaixo.
Após 1981 o ritmo de incremento da economia diminuiu. No governo Sarney (1985-89), o crescimento anual do PIB foi de 4,4% aa. Em seguida, os governos Fernando Collor e Itamar Franco (1990-94) apresentou crescimento médio do PIB de apenas 1,2% aa (abaixo do crescimento demográfico).
Evidentemente, a crise política que contribuiu e foi acentuada pelo processo de impeachment de Collor, impulsionou para o baixo desempenho da economia. Após o lançamento do Plano Real, a inflação brasileira foi controlada para um “patamar civilizado”, e o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-02) apresentou crescimento médio de 2,4% aa.
O governo Luiz Inácio Lula da Silva (2003-10), com crescimento de 4,1% ao ano, apresentou o melhor desempenho do período pós-democratização, embora a uma taxa cerca da metade daquela do período JK. Os governos Dilma Rousseff e Michael Temer (2011-18) apresentou crescimento de apenas 0,63% aa (abaixo do crescimento demográfico).
Novamente, a crise política que gerou e foi acentuada pelo processo de impeachment da presidenta Dilma, contribuiu para o baixo desempenho da economia. O governo Jair Bolsonaro (2019-2022) deve ter um crescimento médio de 1,4% ao ano (considerando uma variação de 2,5% em 2022).
No período 1950 a 1980 a população e a economia brasileira cresceram, respectivamente, 2,8% e 7,1% ao ano. Portanto, a renda per capita cresceu 4,3% ao ano no período. Mas no período 1981 a 2022, a população cresceu a 1,4% ao ano e o PIB cresceu 2,2% ao ano. Assim, a renda per capita aumentou apenas 0,8% ao ano nos últimos 41 anos, sendo que na última década houve redução da renda per capita.
O Brasil tinha um PIB que representava apenas 0,4% do PIB global em 1822. Mas, como mostra o gráfico abaixo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB brasileiro alcançou 4% do PIB global na década de 1980. Entre 1900 e 1980 o Brasil apresentou um crescimento econômico acima da média mundial, mas a partir de 1981 passou a crescer menos do que a média mundial. O Brasil era uma nação emergente e virou um país submergente.
Ainda segundo dados do World Economic Outlook (WEO) do FMI, a renda per capita brasileira (em termos constantes, em poder de paridade de compra) chegou a US$ 14,7 mil em 2022, valor menor do que os US$ 14,9 mil registrados em 2010. Portanto, o Brasil empobreceu nos últimos 12 anos e a pobreza e a fome voltaram a apresentar taxas crescentes.
No ano do Bicentenário da Independência, o Brasil terá eleições gerais e será uma oportunidade para debater um futuro mais promissor, deixando para trás o legado de atraso e desigualdades que marcaram a história do país.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referência:
Livro: Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI, Escola de Negócios e Seguro (ENS), maio de 2022. Escrito por José Eustáquio Diniz Alves, com a colaboração de Francisco Galiza. Acesso gratuito no site da ENS:
https://ens.edu.br:81/arquivos/Livro%20Demografia%20e%20Economia_digital_2.pdf
Texto publicado originalmente por Eco Debate
Comentários