Os manguezais são ecossistemas importantes para os serviços ecossistêmicos, como sequestro de carbono, proteção contra a erosão e habitats para espécies.
Uma descoberta científica divulgada na última quarta-feira (20) revela a existência de manguezais de água doce na costa brasileira. O achado inédito é da expedição da National Geographic e da Rolex Perpetual Planet Amazon Expedition, da qual faz parte Angelo Bernardino, pesquisador e professor do Departamento de Oceanografia da Ufes. A Expedição Perpetual Planet Amazon vai passar dois anos percorrendo a bacia do rio Amazonas, dos Andes ao Atlântico.
A exploração que descobriu os manguezais de água doce foi a primeira da série e aconteceu de 10 a 27 de abril último. Os pesquisadores Angelo Bernardino e Thiago Silva, da National Geographic, exploraram 11 florestas de mangue ao longo do delta do Amazonas. Foram analisados dados da água, do solo, salinidade, composição, densidade e volume das árvores usando varredura a laser 3D do solo e de drones.
Os resultados da pesquisa mostram uma expansão dos manguezais mapeados existentes no delta do Amazonas de quase 20%, com mais 180 quilômetros quadrados. Esses manguezais são ecossistemas importantes para os chamados serviços ecossistêmicos, como sequestro de grandes quantidades de carbono orgânico, proteção contra a erosão e habitats para muitas espécies terrestres e aquáticas, como macacos, pássaros, caranguejos e peixes.
Hipótese confirmada
O professor Bernardino destacou o valor da exploração do meio ambiente em busca de novas descobertas científicas.
“A gente tinha a hipótese da existência de manguezais de água doce em solos hipossalinos no delta do Amazonas, pois a vazão alta de água do Rio Amazonas poderia dar suporte a manguezais com grandes diferenças de estruturas e funções ecológicas. Depois dessa expedição, nos surpreendemos, porque esses manguezais têm estruturas bem diferentes do que estamos acostumados no Espírito Santo e em outros lugares no Brasil. Talvez 99% dos manguezais do Brasil se desenvolvam em solos com alta salinidade, em estuários e áreas marinhas. No delta a gente tem o maior rio do mundo criando essas condições especiais [para o manguezal doce]. É muito especial ver isso, um ecossistema adaptado como provavelmente não existe em nenhum outro lugar do mundo”, afirmou Bernardino.
Segundo divulgado pela National Geographic, o estudo, publicado na última quinta-feira (21) em artigo na Current Biology, mostra que a pluma do rio Amazonas e as altas condições pluviométricas permitem a coexistência de um conjunto único de manguezais. Essas estruturas de mangue, que produzem pouca ou nenhuma salinidade, nunca foram documentadas em deltas ou manguezais costeiros em nenhum lugar do mundo.
Fase atual
O professor Bernardino segue na Amazônia. A segunda fase da pesquisa está atualmente em andamento no Pará, onde ele e a exploradora Margaret Owuor estudam o valor econômico e social que as florestas de mangue proporcionam às comunidades amazônicas.
Por Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)
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