Trabalho, realizado pelo Imazon, mostra que é possível recuperar a floresta em larga escala sem perder terras agricultáveis. Área ruim para plantio ultrapassa 5 milhões de hectares
Uma análise do potencial agrícola de 7,2 milhões de hectares na Amazônia que estão em processo de regeneração mostrou que, deste total, 5,2 milhões de hectares – ou 73% do total mapeado – estão em locais sem aptidão agrícola. Isso significa que é possível recuperar a floresta em larga escala a baixo custo e sem perder terras agricultáveis
Os dados fazem parte do estudo “Oportunidades para Restauração Florestal em Larga Escala no Bioma Amazônia – Priorizando a Vegetação Secundária”, de autoria dos pesquisadores do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). O trabalho faz parte do projeto Amazônia 2030 e foi publicado na noite de ontem (24).
Áreas em regeneração são aquelas que foram desmatadas no passado e cuja vegetação nativa volta a crescer, passados alguns anos. No estudo, os pesquisadores do Imazon analisaram locais em que a vegetação secundária – esta que cresce em área que foi desmatada – possuía acima de seis anos.
A área classificada como tendo baixa aptidão agrícola é aquela em que há grande limitação para o plantio por estarem em aclives ou declives, o que dificulta o ingresso de máquinas agrícolas, como plantadeiras e colheitadeiras. O total mapeado nestas condições na Amazônia é maior do que o território do estado do Rio de Janeiro.
“Provavelmente, elas foram desmatadas no passado com a expectativa de serem usadas para a produção, porém, devido a essa dificuldade e altos custos, foram abandonadas e hoje estão em regeneração. Além disso, classificamos como áreas de baixa aptidão agrícola aquelas que estão às margens dos rios, onde o desmatamento é ilegal”, explica o pesquisador Paulo Amaral, do Imazon, um dos autores do estudo.
Onde estão a áreas não agricultáveis
Os pesquisadores do Imazon também analisaram a classe fundiária destas áreas em regeneração impróprias para a agricultura. O resultado da análise mostrou que 36% (1,8 milhão de hectares) estão em territórios privados ou em assentamentos. Isso significa, segundo os autores do estudo, que tais áreas podem ser usadas por proprietários de terras e agricultores no processo de adequação das propriedades à legislação ambiental.
“Na Amazônia, estima-se que produtores precisam recuperar cerca de 8 milhões de hectares para cumprir as leis ambientais […] Além de impedir prejuízos com multas ambientais, ter propriedades adequadas à legislação pode ajudá-los a conseguir financiamentos e a valorizar a produção”, ressalta Amaral.
Outros 22% das áreas em regeneração sem aptidão para agricultura estão dentro de terras protegidas; 20% estão em terras públicas não destinadas, e 12% em vazios fundiários – onde não há informações sobre titularidade. Outros 10% são áreas registradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR), mas onde não é possível analisar a legalidade desses cadastros.
Áreas com potencial agrícola
O trabalho do Imazon também traz um alerta: dos 7,2 milhões de hectares em regeneração na Amazônia com mais de 6 anos, 2 milhões de hectares (27% do total) estão em áreas com “alta aptidão agrícola”. São elas que correm maior risco de voltarem a ser desmatadas, diz o estudo.
A maior parte das terras com essas características são áreas privadas, assentamentos, têm CAR ou estão em áreas protegidas cuja agricultura é permitida. O total destas áreas chega a 1,4 milhão de hectares (72% dos 2 milhões).
Por este motivo, os pesquisadores afirmam que os governos devem priorizar essas áreas durante as ações de regularização ambiental e de validação dos CAR, além de implementar uma compensação financeira pela proteção da vegetação.
Outros 16% das áreas em regeneração com alta aptidão estão em terras públicas não destinadas, justamente as preferidas para grilagem – invasão de terras para obtenção de posse e de lucro com a venda posterior. A recomendação é que os governos transformem estas áreas em terras indígenas, quilombolas ou unidades de conservação. Os 12% restantes estão em vazios fundiários.
Fonte: O Eco
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