De acordo com Letícia Veras Costa-Lotufo, a Década do Oceano ajuda a pensar novas formas de geração de renda de modo harmônico com o ambiente marinho
A biotecnologia azul ou biotecnologia marinha é a utilização da tecnologia em organismos do oceano para pesquisa e desenvolvimento de produtos tanto para a indústria como para a sociedade. Esses produtos podem ser farmacêuticos, cosméticos ou alimentícios.
Essa temática está dentro do Especial Oceano, uma parceria entre a USP e a Cátedra Unesco para Sustentabilidade do Oceano (Instituto Oceanográfico e Instituto de Estudos Avançados) para promoção da Década do Oceano (2021-2030), que traz temas de inovação, tecnologia e conhecimento relacionados aos oceanos, além de destacar sua importância para o desenvolvimento sustentável.
A professora do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e doutora em Fisiologia pela mesma universidade, Letícia Veras Costa-Lotufo, destaca que “temos muitas formas de empreender e de desenvolver produtos e serviços ecossistêmicos a partir da biodiversidade marinha, que seria a biotecnologia marinha, e discutir isso dentro de um contexto de sustentabilidade — um conceito central dentro das décadas dos oceanos”.
Potencial econômico
Há grande biodiversidade de seres nos mares e, consequentemente, enorme diversidade química. Desse modo, a biotecnologia azul tem grande potencial para a economia. No Brasil, as indústrias de cosméticos e de fármacos poderiam se aproveitar disso.
Para Letícia, “tem muito campo para empreender na parte de cosméticos, porque há uma indústria mais forte no Brasil, inclusive usando produtos da nossa biodiversidade, da biodiversidade verde”. A professora prossegue explicando que, em virtude disso, é questão de tempo a utilização da biotecnologia marinha ser aplicada nesse ramo.
No caso do setor farmacêutico, há somente dois medicamentos brasileiros aprovados para uso clínico, o Acheflan, como anti-inflamatório, e o Heleva, para disfunção erétil. Letícia esclarece que “tem muitas pesquisas acontecendo, mas não há ainda um produto que chegou ao mercado que cumpriu todas as fases de pesquisa e desenvolvimento” para uso clínico. Por isso, a indústria de cosméticos sairia na frente ao utilizar os mares.
Desenvolvimento sustentável e de populações locais
Outro ponto ressaltado pela professora é que a economia utilizada de maneira predatória pode ser transformada em um cenário ecologicamente correto com a biotecnologia azul. Ela destaca o projeto Mulheres de Corpo e Alga, no qual trocou-se o extrativismo das algas, pois, como esses organismos serviam de berçários, diversas espécies marinhas eram prejudicadas, e implementou-se o cultivo sustentável. Isso trouxe renda para aquela população em harmonia com a preservação marinha.
“Em todas as regiões que estão voltadas para a costa temos iniciativas acontecendo. […] Então, eu acho que tem espaço para esse desenvolvimento em todas as regiões do Brasil. Claro que vão ter nuances daquilo que é possível cultivar. A vocação pode não ser a mesma para todo lugar, mas eu acho que o potencial existe”, completa Letícia.
Fonte: Jornal da USP
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