De acordo com o governador do Pará, 70% do território do estado é gerido e fiscalizado pela União, e com a destruição das políticas ambientais do governo Bolsonaro os índices de desmatamento do estado dispararam
A retomada das operações de combate aos crimes ambientais na Amazônia a partir da posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Presidência da República, em conjunto com as ações já desenvolvidas pelos órgãos estaduais, fará com que o Pará, aos poucos, deixe de ocupar as primeiras posições de devastação do bioma. A avaliação é do governador reeleito, Helder Barbalho (MDB), que se mostra confiante com a nova política ambiental a ser adotada pelo Brasil a partir de 2023, após quatro anos de desmonte executado na gestão de Jair Bolsonaro (2019-2022).
“A minha expectativa de que unir os esforços da agenda estadual com a agenda nacional permitirá com que a fotografia com que o cenário do estado do Pará seja um cenário novo, e de prosperidade ambiental em que nós possamos efetivamente conciliar as vocações existentes no Estado com sustentabilidade e, por outro lado, efetivamente fazer com que a floresta em pé seja um ativo”, disse Helder em entrevista ao ((o))eco, durante a COP-27, que aconteceu em novembro no Egito.
70% do território, de responsabilidade da União, estão vulneráveis para a prática de crimes diante da omissão do governo federal
De acordo com Helder, apesar do governo estadual desenvolver operações de comando e controle nas áreas de posse do Estado, outros 70% do território, de responsabilidade da União, estão vulneráveis para a prática de crimes diante da omissão do governo federal.
Mesmo assumindo um papel de protagonismo nacional e internacional de “governador da Amazônia” – ante a saída proposital do governo Bolsonaro de todos os acordos de cooperação para a região – o Pará permanece nas primeiras posições do ranking do desmatamento e das queimadas.
Segundo o mais recente boletim do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), em outubro o Pará respondeu, sozinho, por mais da metade (56%) dos 600 km2 de floresta derrubada no bioma. Uma das áreas mais ameaçadas pelo avanço do desmatamento no Pará é a Floresta Estadual do Paru, na região da Calha Norte do estado.
Conforme o Imazon, a unidade de conservação ocupou a quinta colocação entre as áreas protegidas da Amazônia mais desmatadas em outubro. O dado é preocupante por revelar a migração da devastação do bioma na porção mais norte do território paraense, considerado mais preservado – até o presente momento.
Mesmo com resultados tão negativos, Helder Barbalho afirma que o Pará tem apresentado redução nas taxas de desmatamento na comparação de um ano para outro, mas reconhece que o estado ainda ocupa o topo da destruição da floresta.
“É importante destacar a redução comparativa 2019-2020 e 21 com os níveis de 2022. Portanto, nós conseguimos assegurar desaceleração das taxas de desmatamento no Estado, e este é um importante vetor que precisa ser continuado sob a ótica de que nós estamos muito próximos de garantir já a reversão para assegurar com que o Estado não mais conviva com os índices de desmatamento que lamentavelmente, no seu histórico, traz”, analisa ele.
Ao contrário do que diz o governador reeleito, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento não desacelerou no Pará nos últimos anos. Em 2019, o estado teve uma área desmatada de 4.200 km2; em 2020, chegou-se a 4.900 km2. Ano passado, o estado devastou 5.200 km2 de cobertura florestal.
Indagado sobre planos para criar novas unidades de conservação estaduais durante seu segundo mandato, Helder Barbalho falou que essa já é uma possibilidade em discussão pelo Instituto Florestal do Pará. “É claro, isto pressupõe audiências públicas, debater com as comunidades locais e enxergar eventuais conflitos que possam ser mitigados.”
A política dos governadores
Sobre como será a nova relação de forças da maioria dos governadores bolsonaristas reeleitos na Amazônia Legal, com o governo Lula, Helder Barbalho afirma não enxergar problemas nisso. Após se manter neutro no primeiro turno na disputa para presidente, por conta da candidatura de Simone Tebet (MDB), Helder foi o principal cabo-eleitoral do presidente eleito na região.
“Eu não vejo nenhuma dificuldade, nenhum ambiente conflituoso com qualquer governador da Amazônia Legal para o presidente Lula, o que acho que é determinante e fundamental é que todo e qualquer debate e discussão sobre a Amazônia levem em consideração as realidades da Amazônia e as peculiaridades que contemplam a Amazônia Legal”, avalia.
Para o emedebista, o desafio do governo Lula é enxergar as diversidades amazônicas. Uma proposta de solução para a realidade do Acre, por exemplo, não deveria ser empurrada para o Amapá. “O retrato do estado do Pará no seu território já é adverso. A realidade do Marajó são distintas da região sul do Pará e daí por diante.”
Fonte: O Eco
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