A expansão do garimpo em Terras Indígenas não cria tensões apenas entre garimpeiros e aldeias, mas também dentro da comunidade indígena. Atraídos por promessas de riqueza fácil em um contexto de pobreza e de dificuldades, muitos indígenas se voltam contra seus próprios familiares e amigos para explorar o ouro em suas terras. Como destacaram Vinicius Sassine e Lalo de Almeida, na Folha, essa cisão no seio dos grupos indígenas está longe do fim.
A reportagem abordou a situação da Terra Indígena Baú, localizada no sul do Pará. Com cerca de 1,5 milhão de hectares, a reserva é lar dos indígenas Kayapó Mekrãgnoti, com cinco aldeias formais, além de indígenas isolados. Na aldeia principal, que batiza a Terra, os indígenas resistem ao garimpo por conta dos impactos dessa atividade sobre seus meios de subsistência – caça, pesca e extrativismo. Nas outras aldeias, a situação é diferente: muitos indígenas já foram cooptados pelos garimpeiros e atuam junto com os invasores na exploração ilegal de ouro no território.
Divisão pelo garimpo
“Cada um pensa diferente. Eles aceitaram a divisão entre nós. Falamos a mesma língua, andamos juntos, lutamos juntos. Por causa do garimpo, a gente se dividiu”, lamentou o cacique Bepdjo. “A gente, da aldeia Baú, protege nossas árvores, o lugar onde a gente nasceu, a raiz profunda da terra. E vamos continuar defendendo”.
Rubens Valente lembrou na Agência Pública a execução de três indígenas Korubo no Vale do Javari em 1989, a mesma região onde Bruno Pereira e Dom Phillips seriam assassinados mais de três décadas depois. A chacina aconteceu em setembro daquele ano, nas margens do rio Ituí, quando um grupo de pescadores atacou os indígenas.
O caso jamais foi investigado pela polícia e processado na Justiça, sendo relegado à memória coletiva dos indígenas que vivem na região. Uma curiosidade que revela a conexão entre os dois casos: um dos suspeitos pelos assassinatos de 1989 é Sebastião “Sabá” Conceição da Costa, já falecido, que é sogro de Oseney da Costa de Oliveira, o “Dos Santos”, um dos três presos pelas mortes de Bruno e Dom.
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Em tempo 1: No Estadão, Eduardo Geraque contou sobre a luta de famílias de agroextrativistas na região do rio Manicoré, no sul do Amazonas. Há dois anos, eles foram surpreendidos por uma decisão do governo do estado que lhes negou a demarcação de uma reserva de desenvolvimento sustentável, pleiteada desde 2006. Ao invés de aceitar o arquivamento puro e simples, esses trabalhadores acionaram o Ministério Público do Amazonas e conseguiram recorrer na Justiça. Em março passado, veio a vitória: o grupo recebeu a Concessão do Direito Real de Uso Coletivo (CDRU), beneficiando cerca de 4 mil famílias que vivem da agricultura sustentável e do extrativismo.
Em tempo 2: A Federação dos Povos Indígenas do Pará (FEPIPA) encaminhou carta a diversas empresas do agronegócio na última semana questionando a proposta, apresentada pela Federação das Indústrias do Pará (FIEPA), que pede a retirada do Brasil da Convenção 169 da OIT, que garante o direito de consulta prévia, livre e informada a comunidades potencialmente afetadas por empreendimentos econômicos no entorno de suas terras.
Entre as empresas que compõem os grupos signatários da proposta, estão gigantes como Vale, Alcoa, Hydro e Agropalma. “Várias destas empresas, em diversos momentos, tornaram públicos seus compromissos com o meio ambiente, os Direitos Humanos e, algumas delas, até mesmo diretamente com os Povos Indígenas”, diz um trecho da carta, citado pelo De Olho nos Ruralistas.
Texto publicado original em CLIMA INFO
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