Por Suzana Camargo – Conexão Planeta
A última vez que alguém viu essa espécie de gafanhoto foi em 1869, na América do Norte. Ou seja, há 153 anos. Desde então o que se sabe sobre esse inseto, que recebeu o nome científico de Prophalangopsis obscura, é o que resta dele: um espécime guardado no Museu de História Natural de Londres.
Agora, com o objetivo de saber mais sobre esse inseto, cientistas conseguiram recriar o seu cricrilar. O objetivo é, quem sabe, alguém em algum lugar do mundo reconhecer o som e a espécie possa ser redescoberta.
Um dos últimos sobreviventes do grupo de gafanhotos e grilos
“Enquanto estamos lidando com apenas um espécime, é uma das poucas espécies que sobrevive de um grupo de parentes de gafanhotos e grilos que provavelmente dominaram o Período Jurássico”, diz Ed Baker, especialista em bioacústica e um dos autores de um artigo científico publicado esta semana sobre a recriação do cricrilar desse inseto.
Em geral, animais da ordem Orthoptera, como grilos e gafanhotos, produzem som esfregando partes do corpo, como asas e pernas. Os machos usam esses cantos para atrair as fêmeas durante a época do acasalamento.
Para conseguir reproduzir o som do Prophalangopsis obscura foram criadas digitalmente imagens 3D de cada asa para determinar sua frequência de ressonância. Com essas informações, conseguiu-se reproduzir o cricrilar do inseto, conforme você confere no vídeo abaixo:
Segundo Baker, ao comparar o Prophalangopsis obscura com parentes modernos é possível notar que ele tem asas grandes, o que sugere que é capaz de voos longos. “Ele também deveria cantar uma música de baixa frequência, que viajaria por longas distâncias. Junto com seu hábito de viver ao ar livre, esses recursos deveriam torná-lo um alvo ideal para os morcegos, pois seria mais fácil de detectá-lo”.
O especialista acredita que se ele ainda existir, talvez viva em ambientes onde não há a presença de morcegos.
Por volta de 2005, dois insetos, do sexo feminino, foram descobertos no Tibet e suspeitou-se que fossem da mesma espécie do gafanhoto misterioso. Mas nunca houve uma confirmação.
Agora o cricrilar do Prophalangopsis obscura fará parte de um banco de dados, ou melhor, de sons de insetos, do Museu de História Natural de Londres.
“Com eles sendo digitalizados, mais pessoas poderão pesquisá-los. Gostaríamos de recriar mais sons de espécies raras ou extintas. Isso nos permitiria construir um cenário das comunidades acústicas em que essas espécies vivem e, no caso do P. obscura, poderia nos dar uma ideia melhor de como o Jurássico poderia ter soado”, diz Baker.
*Com informações do Natural History Museum
Imagem e vídeo: Woodrow et al., 2022, PLOS ONE, CC-BY 4.0
Texto publicado em Conexão Planeta em 12/08/2022
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