Servidores concursados e especializados não têm vez na FUNAI do atual governo federal. Um levantamento feito pelo Repórter Brasil mostrou como as indicações de profissionais externos, sem concurso e até mesmo sem qualquer experiência ou conhecimento sobre questões indígenas, explodiram nos últimos anos. As nomeações também beneficiam familiares de pessoas em cargos diretivos de confiança do órgão.
O aparelhamento da FUNAI coincide com um desmonte estrutural do órgão sob o comando do delegado da Polícia Federal, Marcelo Xavier da Silva. Há anos, o governo federal vem barrando a realização de concursos públicos para recompor o quadro funcional da FUNAI, ao mesmo tempo em que perseguições de cunho político-partidário estão expulsando servidores antigos – como foi o caso do indigenista Bruno Pereira, assassinado neste mês junto com o jornalista Dom Phillips, no Vale do Javari.
Outro problema, esse compartilhado com outros órgãos de proteção socioambiental, é a proliferação de militares em cargos de chefia: como uma pesquisa recente mostrou, somente duas das 39 coordenações regionais da FUNAI são chefiadas atualmente por servidores públicos, sendo que mais da metade está nas mãos de policiais militares e oficiais das Forças Armadas.
Sobre as mortes de Bruno e Dom, uma comitiva de parlamentares visitará nesta 5a feira (30/6) o município de Atalaia do Norte, no Vale do Javari, onde os crimes aconteceram. Os congressistas fazem parte das comissões externas da Câmara do Senado que acompanham as investigações. De acordo com o Poder360, os parlamentares farão visitas a comunidades e conversarão com representantes indígenas e dos poderes públicos municipal e estadual.
Enquanto isso, a Polícia Civil do Amazonas e a Polícia Federal seguem investigando os antecedentes do principal suspeito dos assassinatos de Bruno e Dom detido até agora, Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”. Segundo informaram Rubens Valente e José Medeiros na Agência Pública, os policiais identificaram a ocorrência na ficha corrida de “Pelado” de uma prisão em 2019 por posse de 200 cartuchos de espingarda calibre 16, armamento do mesmo tipo utilizado pelo criminoso para alvejar Bruno e Dom.
Em tempo: “Há fortes evidências de que atividades predatórias ao meio ambiente na Amazônia estão intimamente associadas à violência crescente observada na região”, escreveram Paulo Moutinho (IPAM), Rodrigo Soares (Insper) e Alexandre Mansur (O Mundo que Queremos) no Um Só Planeta. “Se nada for feito urgentemente, caminhamos para um cenário equivalente ao do domínio do tráfico na Colômbia e no México, em uma área ainda maior e mais crítica. Essa situação de epidemia de violência, corrupção, crime organizado e falta de atuação do Estado é fruto de vários processos que correram soltos na Amazônia”.
Texto publicado originalmente em Clima INFO em 30/06/2022
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