Infelizmente, mesmo depois da repercussão dos assassinatos brutais de Bruno Pereira e Dom Phillips no começo de junho, o Estado de Direito não chegou ao Vale do Javari. Na semana passada, o coordenador da FUNAI para a região, Leandro Ribeiro do Amaral, teve sua dispensa formalizada no Diário Oficial da União. Ele atuava interinamente na coordenação da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari – que, aliás, segue sem um coordenador efetivo desde 2020.
De acordo com Rubens Valente na Agência Pública, o pedido de dispensa de Amaral tem relação direta com as mortes de Bruno e Dom e o clima de insegurança contra indígenas e servidores da FUNAI no Vale do Javari. O ex-coordenador estava no posto desde abril, mas atuava na região desde 2018, onde conheceu e ficou amigo de Bruno Pereira. O Globo também destacou a notícia.
“O crime, confessado por pescadores ilegais, mobilizou as Forças Armadas e a Polícia Federal, mas por enquanto não passou disso”, observou O Globo em editorial. “Presos os implicados nas mortes, o Vale do Javari voltou a ser o que sempre foi: um entroncamento de rios em que traficantes e outros criminosos se deslocam numa região estratégica. (…) Sem um aparato de segurança eficaz para deter a criminalidade, grupos armados voltam a ameaçar servidores que trabalham na região e a população”.
Enquanto isso, em Rondônia, o Ministério Público do estado denunciou o deputado estadual Geraldo da Rondônia por incitar a população contra agentes do IBAMA e à destruição do patrimônio público. Segundo informou o g1, o motivo da denúncia foi um vídeo veiculado em maio passado no qual o parlamentar conclamou às pessoas para “ajudar a botar fogo” nos veículos de agentes ambientais. “Vamos combinar uma coisa? Quando vier [fiscalização] usa meu nome. Me liga, que eu vou ajudar vocês a botar fogo na caminhonete deles. Vamos botar fogo nos caminhões deles, nos carros deles. E vamos combinar mais uma coisa? Vamos fazer um manifesto pra não deixar eles entrarem aqui nessa região?”, disse Geraldo durante uma audiência pública sobre regularização de áreas de proteção ambiental em Jacinópolis, distrito de Nova Mamoré.
Em tempo: O poder político na Amazônia está sendo cupinizado por criminosos ambientais, que se apropriam das prefeituras e câmaras municipais para defender seus interesses e dificultar a aplicação da lei de instâncias superiores nos municípios da floresta. Terrence McCoy e Cecília do Lago abordaram no Washington Post o caso de um prefeito na região de São Félix do Xingu, no sul do Pará, que é apontado pelo Ministério Público como chefe de uma grande organização criminosa responsável por invasão e ocupação ilegal de áreas verdes, exploração de madeira e ataques contra indígenas e outras Comunidades Tradicionais.
Texto publicado originalmente por Clima INFO
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