Mônica Nunes – Conexão Planeta
Era março de 2019 quando um grupo de servidores da Funai saiu em uma mega e delicada expedição para contatar indígenas isolados na Terra Indígena do Vale do Javari, oeste do estado do Amazonas.
Liderada pelo indigenista Bruno Pereira, um dos maiores especialistas em indígenas isolados ou de recente contato do país (assassinado em junho deste ano junto com o jornalista britânico Dom Phillips), sua missão era ajudar a apaziguar conflitos entre os Korubo e os Matis.
O objetivo era também ajudar a apaziguar conflitos entre os Korubo e os Matis. O clima tenso entre os grupos se acirrou a partir de 2010, quando os Matis tentaram reocupar terras que ocuparam no passado, vizinhas dos Korubo, na região dos rios Branco e Coari. Os integrantes de uma família Korubo foram capturados pelos Matis devido a desentendimentos, em 2015.
É essa história que Bruno Jorge conta em seu longa-metragem A Invenção do Outro, que acaba de conquistar, na Mostra Competitiva Nacional do 55º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB), não só o prêmio de melhor filme pelo júri oficial – que o definiu como “uma experiência cinematográfica arrebatadora” -, como também os troféus Candango de melhor fotografia, melhor edição de som e melhor montagem.
“Segundo a psicanálise, o nosso ‘eu’ não nasce pronto, ele é um processo de construção, que começa quando a gente nasce e começa a se identificar com os atributos do outro. Somos camadas de vários outros, que a gente vai tirando e, no final, não sobra nada. Queria agradecer ao júri por premiar um trabalho que tem um deslocamento do eu, da desterritorialização da autoimagem”, declarou o diretor ao receber o maior prêmio da noite.
“Acho que o principal aprendizado dessa experiência foi que a gente não precisa se identificar com a gente mesmo para se identificar com o outro. Podemos partir de um outro lugar, do coletivo”, analisou.
“A grande importância primeiramente é o afeto, ganhar este prêmio é um abraço e uma forma de reconhecimento. Porém, o mais importante é que isso ajuda, de certa forma, que o filme possa circular e dialogar com outras plateias. Essa é grande consequência disso tudo”, destacou Jorge ao Correio Brasiliense.
A jornalista e crítica de cinema Cecília Barroso escreveu um artigo muito profundo e delicado a cerca dessa obra de Jorge, para o site Cenas de Cinema. Reproduzo, a seguir, um trecho que completa, com maestria, as declarações do diretor:
“A Invenção do Outro é conhecer e reconhecer. Cinematograficamente é experimentar a descoberta do objeto e suas nuances, ir além do significado das imagens e contrapor sentidos. Contextualmente, é se perturbar com aquilo que achamos que sabemos e descobrir o que não temos ideia de existir. É mergulhar no profundo do Brasil e sentir o outro de uma maneira que não estávamos esperando, sem deixar de questionar. E é também sofrer com a realidade da destruição e o que de nefasto se instalou no país, causando perdas irreparáveis”.
A cerimônia de entrega dos prêmios ocorreu no último domingo, 20/11, após uma semana de exibições, quando Festival de Brasília voltou a ser presencial.
Fontes: Correio Brasiliense, Cenas de Cinema,
O texto foi retirado de Conexão Planeta publicado em 24/11/2022
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