A preocupação de investidores e consumidores externos com a relação da carne bovina brasileira com o desmatamento da Amazônia está fazendo com que os principais bancos do país se mobilizem para criar regras mais rígidas no controle da origem do produto para seus clientes. A iniciativa da FEBRABAN, no entanto, está focada apenas nos frigoríficos, deixando de lado o resto da cadeia produtiva da carne – e, consequentemente, seus elos mais problemáticos.
O Valor antecipou parte de uma normativa que está sendo discutida entre os bancos, que lista uma série de medidas a serem cumpridas pelos frigoríficos para acessar crédito no mercado brasileiro. Entre elas, está o compromisso de não comprar gado direta ou indiretamente ligado a áreas de desmatamento ilegal a partir de 2025.
A proposta é vista como um primeiro passo de autorregulação do mercado financeiro brasileiro para combater o desmatamento. O problema é que o foco restrito da medida – e o fato de deixar a cadeia da pecuária de fora dela – reduz significativamente o potencial de redução efetiva dos níveis de desmate dentro da cadeia da carne bovina. Além disso, ainda que aos trancos e barrancos, os frigoríficos são o elo dessa cadeia com compromissos e metas mais estruturados de combate ao desmatamento, diferentemente dos pecuaristas, que possuem um comprometimento bem menor com a agenda.
Por falar em autorregulação, o Valor também destacou um guia publicado nesta semana pelo Imaflora e pela The Nature Conservancy (TNC Brasil) propondo um roteiro para relatórios de progresso sobre a produção de soja livre de desmatamento no Cerrado e na Amazônia. O documento pretende oferecer aos produtores um modelo metodológico e referência de indicadores mais sólidos no acompanhamento dos impactos ambientais e sociais relacionados à produção da soja nesses biomas.
Em tempo: O De Olho nos Ruralistas segue destrinchando as conexões das multinacionais do agro com a bancada ruralista no Congresso e com o desmonte da política ambiental sob o atual governo. O foco da investigação é o Instituto Pensar Agro (IPA), o qual se notabilizou nos últimos anos pelo lobbypró-agronegócio nos corredores do poder em Brasília. A reportagem identificou que, entre as multinacionais que financiam a entidade, ⅓ possui sede nos Estados Unidos. Um dos destaques é a Cargill, segunda maior companhia de capital fechado do mundo, que lidera a relação das empresas financiadoras do IPA.
Texto publicado originalmente em CLIMA INFO
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