O jornalista britânico Dom Phillips é um veterano entre os correspondentes internacionais no Brasil. Há 15 anos no país, ele deixou para trás sua terra natal e seu primeiro interesse jornalístico profissional – a música eletrônica – para abraçar o Brasil como poucos de sua profissão o fizeram. Nos últimos anos, ele encontrou uma nova vocação no jornalismo: a luta dos Povos Indígenas pela proteção da Amazônia – a pauta que o levou ao Vale do Javari, onde desapareceu há mais de uma semana.
A esposa de Phillips, Alessandra Sampaio, conversou com Giulia Granchi na BBC Brasil sobre Phillips e o projeto de livro sobre a floresta. “O que eu acho que o Dom gostaria é que as pessoas conhecessem a Amazônia que ele conheceu, que ele tanto amava. Afinal, a gente só cuida do que conhece, do que ama”. Ela explicou que Phillips buscava entender a complexidade da vida dos amazônidas e da realidade de cada comunidade: para ele, não existem vilões. “Ele me dizia, ‘vai fazer o que, Alê, expulsar todo mundo e deixar a mata lá? Isso é inviável’. Ele acompanhou um garimpo em uma reportagem e me disse: ‘A gente vê o garimpeiro como um vilão, mas eu vi homens desesperados para alimentar as famílias’”.
Também na BBC Brasil, João Fellet conversou com o sociólogo Felipe Milanez, amigo de Phillips e que acompanhava o projeto de livro que ele vinha desenvolvendo sobre a Amazônia. “Era muito atento na escuta, muito verdadeiro, e queria ouvir o que as diferentes vozes do Brasil tinham a dizer sobre a Amazônia: cientistas, pesquisadores, gente que se importa”. O líder Ashaninka Francisco Piyãko, entrevistado por Dom há algumas semanas para o livro, também lamentou o desaparecimento do jornalista. “É como se tivessem mexido diretamente com a gente, porque ele estava representando a nossa causa, a nossa história. Ele passou a ser família”.
Além de Alessandra, a Amazônia e Salvador, onde morava, Phillips também tinha outra paixão: a educação de jovens na periferia da capital baiana. Ele ensinava inglês em um projeto social para jovens dos bairros de Marechal Rondon e Alto do Cabrito. O g1 destacou o carinho que os alunos têm pelo jornalista-professor, reconhecido por seu compromisso, sensibilidade e paixão. Um grupo de estudantes desse projeto promoveram um ato na manhã do sábado (11/6) pedindo celeridade nas buscas por Phillips e Pereira no Vale do Javari. Em silêncio, os jovens carregavam cartazes com dizeres “Aventureiro não, ativista sim”, “Aventura é fazer a diferença que o governo não faz” e “Imprudentes, não, pesquisadores”, mensagens que lembraram a fala insensível do atual presidente da República sobre o caso na semana passada.
Por falar no dito-cujo que insulta a faixa presidencial que carrega, Eliane Brum foi certeira em seu artigo no NY Times sobre o desaparecimento de seu amigo Phillips na Amazônia. “O desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira e a resposta inadequada do governo brasileiro são parte integrante da falta de vontade do presidente J*** B******** de enfrentar os danos ambientais catastróficos em curso na Amazônia. E isso é extremamente preocupante”.
Fonte: Clima INFO
Comentários