Por Suzana Camargo – Conexão Planeta
Por muitas e muitas décadas, as bancadas de laboratórios de pesquisas e os estudos de campo eram dominados por cientistas do sexo masculino. Mulheres eram minoria nas profissões da área da ciência. E será que esse desequilíbrio de gênero influenciou de alguma maneira as descobertas feitas até hoje?
Bem, parece que sim. Em 2020, por exemplo, pesquisadoras demonstraram como sempre se acreditou que aves machos cantavam mais. Até que elas começaram a analisar o tema. Agora, numa nova reviravolta curiosa, especialistas anunciam que cobras fêmeas têm clitóris, algo completamente menosprezado até hoje.
E será que isso realmente faz diferença, alguns podem perguntar. Faz, e muita! Diferenças anatômicas entre os sexos são importantes para determinar modos de reprodução e comportamentos e assim, definir melhores estratégias de conservação das espécies.
“Em todo o reino animal, a genitália feminina é negligenciada em comparação com suas contrapartes masculinas. Nosso estudo contraria a suposição de longa data de que o clitóris (hemiclitóris) está ausente ou não funciona nas cobras”, afirma Megan Folwell, pesquisadora da Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Adelaide, na Austrália, e principal autora do artigo científico recém-publicado sobre o assunto. “Estamos orgulhosas de contribuir com esta pesquisa, principalmente porque a genitália feminina em todas as espécies infelizmente ainda é um tabu”, ressalta ela.
A ciência e a evolução da analise das mulheres
Ao lado de outras três cientistas mulheres, Folwell analisou a genitália feminina em dez espécimes de cobras adultas de nove espécies, em comparação com a genitália de cobras masculinas adultas e juvenis.
Já se sabia que cobras e lagartos possuem pares de pênis, chamado de hemipênis, situados dentro do corpo, mas projetado para fora durante a reprodução. Além disso, o órgão sexual masculino de algumas espécies possuem espinhos ou ganchos para enganchar o macho à fêmea.
“Descobrimos que os hemiclitóris da cobra têm forma de coração e são compostos de nervos e glóbulos vermelhos consistentes com tecido erétil – o que sugere que pode inchar e ficar estimulado durante o acasalamento. Isso é importante porque muitas vezes acredita-se que o acasalamento de cobras envolve coerção da fêmea – não sedução”, explica Kate Sanders, professora da universidade australiana e co-autora do artigo.
Ainda segundo a cientista, a descoberta irá ajudar a entender melhor a sistemática, evolução reprodutiva e ecologia em répteis semelhantes a cobras, como os lagartos.
“Esta descoberta mostra como a ciência precisa de diversos pensadores com diversas ideias para avançar”, diz Kate.
*Com informação e entrevistas da assessoria de imprensa da Universidade de Adelaide
O texto foi publicado originalmente em Conexão Planeta 14/12/2022
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