Iniciativa rastreou 20 árvores raras da Mata Atlântica para serem reproduzidas
Como garantir que a Mata Atlântica ainda esteja de pé para as próximas gerações? Para ajudar a responder a esse desafio, o Corredor Caipira, projeto coordenado por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, está implementando um Banco Ativo de Germoplasma (BAG) no interior do Estado de São Paulo.
A iniciativa, com inauguração prevista para o fim deste ano, será composta de 20 espécies raras da flora nativa e tem como objetivo a preservação da biodiversidade local.
O banco funcionará como uma espécie de pomar, onde a vegetação é manejada para ser capaz de produzir mudas e sementes, sem ser prejudicada com isso. Mas, diferente dos pomares tradicionais, que têm espécies disponíveis no comércio, as sementes de um BAG constituído por espécies raras precisam ser recolhidas na natureza, para então serem cultivadas e preparadas para a reprodução.
No caso do BAG do Corredor Caipira, esse trabalho tem como fim o reflorestamento de áreas desmatadas da Mata Atlântica paulista. Sua criação faz parte da implementação de 45 hectares de florestas e agroflorestas na região de Piracicaba. A criação do banco resolve um dos principais gargalos deste processo: a obtenção de sementes de qualidade para a restauração florestal.
Além de colaborar com o reflorestamento, o BAG contribuirá para a manutenção da diversidade genética da região, conforme destaca Edson Vidal, coordenador geral do Corredor Caipira e professor da Esalq. Ele explica que, com o banco, será possível cruzar exemplares que estão isolados territorialmente, o que aumenta a probabilidade de sobrevivência dessas espécies.
Segundo o professor, o BAG também será ambiente para pesquisas sobre a vegetação local, oferecendo uma base genética ampla que poderá ser usada para o melhoramento da flora paulista. “Esses estudos podem proporcionar a oportunidade de aprimoramento genético das espécies para características de interesse, como a produção de frutos, de madeira, ou de óleos, alavancando projetos de produção florestal ou agroflorestal e beneficiando a comunidade local”, diz Vidal.
Banco Ativo de Germoplasma do Corredor Caipira
A seleção das 20 espécies que estarão no BAG do Corredor Caipira, de acordo com o coordenador geral do projeto, foi feita considerando critérios como: vulnerabilidade à extinção, raridade das espécies, bem como sua importância social e econômica, como o uso medicinal ou o aproveitamento de seus frutos e sementes como alimento.
Estão na lista o Angico branco, o Araribá-rosa, o Cedro-rosa, a Copaíba, o Guanandi, o Guarantã, o Guaritá, o Ipê-roxo, o Ipê-felpudo, o Jatobá, o Jacarandá-paulista, a Jaracatiá, a Juçara, o Jequitibá rosa, a Peroba-rosa, o Pau-marfim, o Louro-pardo e a Sucupira. Conheça alguma dessas espécies.
Caçadores de sementes
Encontrar espécies raras em fase reprodutiva na Mata Atlântica não é uma tarefa simples. Germano Chagas, pesquisador da Esalq e coordenador técnico da ação, conta que as alterações no clima têm feito com que a reprodução das espécies esteja cada vez mais aleatória, tornando ainda mais complexo encontrar suas sementes: “Antigamente era possível saber quando cada árvore floria e quando era possível encontrar os frutos. Hoje, com as mudanças climáticas, o padrão de reprodução das árvores está ficando bagunçado”.
Com esse cenário, os coletores de sementes precisam ser rápidos para alcançar a janela de tempo correta para a coleta, algo que pode ser especialmente desafiador no caso de árvores de dispersão pelo vento. “O período para a coleta é muito curto. Se você for antes do momento, as sementes estão verdes, mas se você demorar, o fruto abre e as sementes voam. Então, é necessário ficar cada vez mais atento à reprodução das árvores”, diz Chagas.
O coordenador técnico ainda lembra que nem sempre o sucesso na coleta das sementes é suficiente. Ele conta que, com o avanço do desmatamento, muitas árvores ficaram isoladas de outras de suas espécies, o que aumenta as tendências de elas se autofecundarem. Em razão da falta de diversidade genética presente nesta forma de reprodução, as sementes recolhidas desses exemplares têm menores chances de germinar. Sem a germinação, elas não conseguem ser aproveitadas pelo banco.
Para contornar as dificuldades elencadas e garantir que o BAG cumpra a função de produzir plantas de excelente qualidade, o professor Vidal conta que são necessários alguns cuidados. Antes do recolhimento das amostras são visitados remanescentes florestais de diversas regiões do interior de São Paulo, a fim de identificar diferentes áreas para a colheita e aumentar as chances das sementes terem uma maior variabilidade genética e, consequentemente, melhores chances de sobreviver.
Somado a isso, Vidal ressalta que, “para cada espécie a ser conservada, estamos coletando sementes de 30 árvores diferentes e plantando 30 mudas de cada uma destas árvores. No total, serão 900 indivíduos para cada uma das 20 espécies que irão compor o BAG”.
Leia a matéria na íntegra no Jornal da USP.
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