As perdas humanas decorrentes das fortes chuvas que caíram em diversos estados brasileiros nos últimos seis meses se acumulam e, depois do desastre da semana passada em Pernambuco, já somam mais de 500 vítimas. Só na região metropolitana de Recife, uma das áreas mais atingidas pelos temporais dos últimos dias, mais de 100 mortes foram confirmadas até a tarde desta 3afeira (31/5). O Estadão destacou que esse é o maior número de mortes em um período de menos de um ano desde 2011, quando 918 pessoas perderam a vida em deslizamentos de terra na região serrana do Rio de Janeiro.
A tragédia desponta como a pior vivida pelos pernambucanos desde a enchente histórica de 1975, quando 107 pessoas morreram. Como destacou o g1, ela já figura como a maior da região metropolitana de Recife neste século. No entanto, diferentemente do desastre de quase cinco décadas atrás, a maior parte das vítimas fatais não morreu por conta de afogamento, mas sim soterrada por deslizamentos de terra nas áreas de encosta. Essa diferença deixa evidente um problema crônico nas grandes cidades brasileiras: a ocupação desordenada de morros e áreas de risco por famílias pobres que não têm condição financeira de viver em áreas mais seguras e regulares.
Se não houver um esforço estrutural para melhorar a resiliência das cidades e dar condições mais dignas de moradia para a população pobre, tragédias como a de Recife vão se repetir cada vez mais. “Outros eventos climáticos extremos não são possíveis, são uma certeza”, alertou Paulo Artaxo, professor da USP e cientista do IPCC, a’O Globo. “Aconteceu, somente nos últimos seis, sete meses, em Petrópolis, Paraty, no sul da Bahia, em Minas Gerais, e agora no Recife. Então, não precisa nem ser cientista para perceber que o clima está indo para uma direção de eventos extremos cada vez mais fortes”.
Infelizmente, a urgência do problema não está sendo levada a sério pelo poder público. Na CBN, Sérgio Abranches apontou para a artimanha dos governantes brasileiros que colocam toda a culpa dessas tragédias no colo do “clima”, como se essas mortes fossem inevitáveis. “Nossas autoridades estão começando a usar a mudança climática como álibi para má gestão”.
Além de fugir da responsabilidade, o governo federal também fez o oposto daquilo que seria necessário para melhorar a resiliência nas áreas urbanas de risco. Carlos Madeiro informou no UOL que o valor autorizado pelo Palácio do Planalto para a execução de projetos e obras de contenção de encostas em 2021 desabou em 96% na comparação com os números de 2012. Há dez anos, o governo Dilma Rousseff autorizou a destinação de R$ 997 milhões, em valores atualizados; no ano passado, esse valor foi de apenas R$ 36 milhões.
Fonte: Clima INFO
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