Jovens da Amazônia enfrentam desafios pelo voto verde em um dos estados mais bolsonaristas do país; em 2018, Bolsonaro teve 77% dos votos no Acre, e segue à frente de Lula
Um cartaz colado numa das paredes do Novo Mercado Velho, no centro de Rio Branco, capital do Acre, faz um apelo: “Lembre da Amazônia ao apertar Confirma”. O texto sobre a ilustração de um teclado de urna eletrônica está ao lado de uma foto estilizada de Chico Mendes, em uma referência direta a sua célebre carta “Atenção Jovens do Futuro”, redigida em 6 de setembro de 1988, três meses antes de ser assassinado, em 22 de dezembro.
Os panfletos seguem por outro ponto do centro da cidade, nos postes da Praça Povos da Floresta. Nessa mesma praça, no começo de julho, a estátua de Chico Mendes foi alvo de vandalismo e chegou a ser arrancada da base e jogada ao chão. Não há confirmação de que esse ataque ao monumento do líder seringueiro tenha conotação política, mas ocorreu no exato momento em que a velha direita acreana, sob o guarda-chuva do bolsonarismo, detém o controle do poder no Acre.
A luta dos jovens acreanos pelo voto verde e em defesa da Amazônia representa um grande desafio no estado que deu a maior votação proporcional a Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018, com 77,22% de vitória. Entre todos os estados da Amazônia Legal, é no Acre que o bolsonarismo ainda resiste com vitalidade. Pelas ruas das cidades, carros com bandeiras do Brasil e adesivos de Bolsonaro são vistos aos montes.
De acordo com pesquisa Ipec/Rede Amazônica divulgada em 30 de agosto, o atual presidente tem 53% das intenções de voto entre os eleitores do Acre. Já o petista Luiz Inácio Lula da Silva, que aparece sempre à frente nas pesquisas nacionais, fica em segundo lugar com 30%. O Ipec consultou 800 eleitores no estado. A pesquisa está registrada no Tribunal Regional Eleitoral do Acre com o número AC-09020/2022.
“A ideia é convencer o eleitor a escolher um candidato que apoie a preservação da floresta em pé neste momento muito difícil da política nacional e da estadual”, explica a jovem ativista Angélica Mendes, neta de Chico Mendes.
Os panfletos foram espalhados pelas cidades de Rio Branco, Brasileia e Xapuri pelo “Circuito Jovens do Futuro”, um movimento iniciado pelo Comitê Chico Mendes em setembro de 2020.
Angélica Mendes, 33 anos, nasceu um ano após assassinato do avô, e começou a atender a convocação da carta há dois anos. “O circuito surgiu inspirado pela carta em setembro de 2020, mas naquele ano não tivemos atividades presenciais em razão da pandemia, assim como no ano passado. Neste ano, pudemos realizar uma série de eventos e, ao mesmo tempo, aproveitando o período eleitoral, acompanhamos o movimento Amazônia de Pé com a colação dos lambes”, comenta ela.
A fixação de cartazes pelas ruas de Rio Branco e cidades do interior foi realizada pelo grupo de jovens do Comitê Chico Mendes durante as comemorações da Semana da Amazônia, de 1º a 5 de setembro. Durante todo este período, Rio Branco e tantas outras cidades da Amazônia estiveram encobertas pela fumaça das queimadas, que atingiram o pico dos focos, justamente, na primeira semana do mês.
Nos sete primeiros dias de setembro, o Acre registrou 3.572 focos de queimadas, ante os 2.638 detectados durante todo o mês de agosto, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O Circuito Jovens do Futuro ainda não esgotou sua campanha pelo voto verde. No próximo dia 26, a seis dias das eleições, o grupo tentará ampliar o alcance dos panfletos, transformando-os em outdoors.
“Vamos nos mobilizar para envolver toda a população acreana para que pense nos candidatos que estão preocupados com a Amazônia”, diz Bruno Pacífico, do grupo de jovens do Comitê Chico Mendes.
Fonte: O Eco
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