Uma possível derrota de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais não significará o fim da “boiada” que atropelou a política e a legislação de meio ambiente no Brasil nos últimos quatro anos.
Nos estados amazônicos, a filosofia “boiadeira” deve se manter viva em forte, especialmente naqueles em que o bolsonarismo não dá sinais de derrocada eleitoral na votação de outubro. Um exemplo é o Acre, governado por Gladson Cameli e favorito à reeleição. Ele encerrou décadas de domínio da família Viana e do PT no estado, articulando uma coalizão que uniu evangélicos, empresários das cidades e ruralistas, similar àquela montada por Bolsonaro no plano nacional. Como resultado, o governo Cameli favoreceu diretamente os interesses do agronegócio, afrouxando regras ambientais e enfraquecendo a fiscalização.
“A ideia que se difundiu aqui é que floresta em pé gera pobreza – o que é contrário, como sabemos, a qualquer visão ambiental ou mesmo econômica razoável”, comentou ao Amazônia Real a professora Sabrina Areco, da Universidade Federal do Acre.
Em Rondônia, nem mesmo Terras Indígenas e Unidades de Conservação escaparam da sanha destrutiva impulsionada pelo governador Marcos Rocha, outro candidato à reeleição favorito nessas eleições. Como a Folha mostra, o estado é o 2º que mais perdeu área protegida nos últimos anos na Amazônia Legal, atrás apenas do Pará. Uma das iniciativas mais polêmicas da gestão Rocha foi a redução das áreas do Parque Guajará-Mirim e da Reserva Extrativista (RESEX) Jaci-Paraná em 23,3% e 88,6%, respectivamente.
A proposta foi apresentada pelo governador e aprovada por unanimidade pela Assembleia Legislativa, sem a realização de qualquer estudo ou consulta às comunidades tradicionais afetadas. Um efeito dessa medida, ressaltado pela Agência Pública, foi o aumento de invasões na Terra Indígena Karipuna, que faz divisa com a RESEX; no ano passado, de acordo com o MapBiomas, a reserva foi a 8o mais desmatada do Brasil, com a derrubada de 1.034 hectares de floresta.
Já no Mato Grosso, a Folha informou que os candidatos ao governo estão divididos quanto à proposta de retirar o estado da Amazônia Legal. Por um lado, o atual governador, Mauro Mendes, antigo entusiasta da ideia, voltou atrás com medo de perder benefícios fiscais. Sua principal opositora, a candidata Marcia Pinheiro, sugere um debate mais amplo antes de qualquer decisão. Já seu colega de chapa e candidato ao Senado, Neri Geller, defende a proposta, bem como seu rival Antônio Galvan, presidente licenciado da APROSOJA BRASIL.
Enquanto isso, no Maranhão, a situação da floresta amazônica atingiu um estágio crítico. O Estado já perdeu 76% de sua vegetação original, com o que restou de áreas verdes concentradas nos arredores de Unidades de Conservação e Terras Indígenas. O desafio dos maranhenses não é apenas conter a devastação, mas reverter o processo de degradação da floresta, recuperando as áreas já desmatadas. A Folha abordou esse desafio.
Texto publicado originalmente por CLIMA INFO
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