No varejo ou no atacado, o Brasil é dono de mais de 60% deste patrimônio vital para a Humanidade, a Amazônia. E isso tem valor como floresta não como exploração predatória, que supõe desmatamento e destruição. O Amazonas precisa sair urgente do ranking dos estados que mais desmatam. Continuar nessa direção significa matar nossa galinha dos ovos de ouro.
Por Nelson Azevedo
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Os números desta última semana do ano mostram uma luz no fim do túnel apesar das tormentas da inflação e da crise hídrica associada à elevação de preço dos combustíveis. Em Manaus, com economia de contrapartida fiscal, os indicadores de crescimento em reais sugerem cautela, pois nossas planilhas só podem ser avaliadas com rigor quando tomamos o dólar por referência. Neste cenário, o crescimento apresenta indicadores mais realistas, sem razões destacadas de empolgação.
Inflação e expansão em baixa
Para o próximo ano, há uma sinalização de retração inflacionária que reduziria os índices atuais 10,2% para 5,03%. A expansão da economia, por sua vez, apresenta igualmente estimativa de queda, num recuo para menos de 0,5%. Os dados são da pesquisa Focus, divulgados neste 27 de dezembro pelo Banco Central. Os sobressaltos ficarão por conta do cenário político e a nossa torcida é que economia e política sejam tomadas como questões autônomas, com menos terremotos ou conflitos artificiais.
Teto de gastos
Com a ruptura no teto de gastos, alcançada pelo calote nos precatórios, 2022 já começa com um forte estouro da meta —que é de 3,75% com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos. Por sorte, a inflação em queda permitirá um planejamento com cenários menos sombrios. Isso permitirá amenizar as estimativas do PIB que apontam para uma redução significativa. As contas de 2021 vão fechar em 4,51%, e em 2022 cairão a 0,42%. Vale observar a comparação anotada na semana anterior ao Natal, respectivamente 4,58% e 0,50%.
Como fica a ZFM?
Obrigados eternamente a fazer contas, esquecemos de fazer a maior de todas elas. E isso é tarefa imediata à luz das tendências críticas do jogo eleitoral e das perspectivas do programa Zona Franca de Manaus. Cabe lembrar que as duas principais propostas de Reforma Tributária colocadas ao debate no Congresso Nacional não asseguravam a manutenção de nossas vantagens comparativas. Uma delas, por sinal, segundo o tributarista Everardo Maciel, tinha por agenda oculta a simples eliminação da ZFM. A outra, teoricamente, não sugeria a mesma agenda mas não levou em conta a permanência da compensação fiscal que nos mantém ativos. E em que nossa economia, que anda de braços dados com a ecologia, pode representar uma saída ao alcance de nossas mãos?
Precificação vital
Esta semana faleceu o cientista Thomas Lovejoy, um pesquisador que desembarcou em Manaus há 50 anos, no alvorecer da ZFM, para fazer doutorado no INPA. Ele é um dos criadores do conceito da diversidade biológica como valor de mercado. Um mecanismo mercadológico que ele parametrizou em bilhões se dólares e que geraram equações de valor extremamente favoráveis à Bolívia e Colômbia, dois países que compartilham com o Brasil as riquezas da biodiversidade amazônica. Bolívia e Colômbia trocaram suas dívidas externas por proteção florestal.
Moeda verde
Este é o caminho mais justo e mais lógico para assegurarmos a sobrevivência e expansão de nossos acertos. “Todos os países que conservam suas florestas devem receber compensação financeira por este serviço ambiental”. Isso é manifestação da ONU e conclusão da COP-26, a Conferência das Nações Unidas, realizada em Glasgow, na Escócia, em outubro último.
Floresta em pé
No varejo ou no atacado, o Brasil é dono de mais de 60% deste patrimônio vital para a Humanidade. E isso tem valor como floresta não como exploração predatória, que supõe desmatamento e destruição. O Amazonas precisa sair urgente do ranking dos estados que mais desmatam. Continuar nessa direção significa matar nossa galinha dos ovos de ouro. O Brasil é signatário deste compromisso da COP26 e precisa organizar sua agenda para precificar com justiça e equidade o bem natural que através dos séculos tem oferecido gratuitamente ao clima e ao gênero humano. Quanto custa o benefício climático da Amazônia?
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