”Por aqui, nos cabe encontrar os meios de construir diálogos e começar a conectar as vidas almejadas com a cidade que se constrói a cada dia, ao invés de repetir erros do passado, tanto nas calçadas, quanto nas vias, quanto nos relacionamentos.”
Augusto Cesar Barreto Rocha
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O que as multidões almejam em Manaus está em acordo com as pautas discutidas de maneira ampla? Ao percorrer qualquer noticiário local da cidade tenho a impressão de que pouco do que aflige o cotidiano das pessoas faz parte das discussões que movem a mídia e a política, como se ambos vivessem em um mundo diferente. Os pequenos fatos do transporte, a dinâmica do trabalho, do estudo e das coisas que movem a vida “normal” foram sendo esquecidas. É como se o normal tivesse sido resolvido, mas estamos muito distantes disto.
Ainda padecemos de severos problemas de calçadas, de ciclovias, de ônibus, de estacionamentos, de segurança pública, de escolas e a lista segue inclemente. A maior parte dos problemas vivenciados hoje são de solução conhecida, apesar de difícil implementação, pois, se fosse fácil, já teriam sido realizadas. E por que estes problemas já conhecidos não são as pautas de discussão? Talvez exatamente por isso – são problemas já conhecidos. É melhor procurar o novo.
Assim, como as respostas para a vida real não aparecem, começamos a debater uma vida irreal. Não investidores deliberam sobre o “mercado financeiro”. Não médicos vociferam “contra ou a favor de vacinas”. Não engenheiros deliberam sobre faixas de ônibus. Canalizamos as nossas forças no entorno de um pseudodebate, onde de fato se debate, mas não se conhece o que se debate e muito menos há necessidade de ação, mas uma sensação de que houve ação – mas ninguém fez nada. Faltam mecanismos institucionais para acolher os debates e os transformar em execução. E assim, cansados de uma deliberação vazia, as pessoas começam a se retirar das suas vidas políticas, por uma percepção da impotência para mudar a realidade imposta.
Está na hora de construirmos mecanismos para realizar ações para as pessoas, para superar o obscurantismo que começa a se impor. A política fictícia de “apaziguamento” já conhecida na história, em Munique, em 1938, merece ser revisitada, para que aquela experiência não se imponha repetir em outra parte do planeta. Por aqui, nos cabe encontrar os meios de construir diálogos e começar a conectar as vidas almejadas com a cidade que se constrói a cada dia, ao invés de repetir erros do passado, tanto nas calçadas, quanto nas vias, quanto nos relacionamentos.
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