Uma das mais graves consequências da pandemia de covid-19 é a fome. No Brasil, estima-se que esse problema afete pelo menos 19 milhões de pessoas e que 55% das residências tenham algum aspecto de insegurança alimentar. Ações assistenciais são necessárias com urgência, mas é preciso pensar em políticas públicas efetivas para combater a situação a longo prazo. Por isso, a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) da USP, com apoio do Instituto de Estudos Avançados (IEA), também da USP, vai promover nesta quarta-feira, dia 12, das 9 às 13 horas, o simpósio Políticas Públicas para o Combate à Fome. O encontro é gratuito e aberto a todos os interessados, com transmissão pelo Youtube.
O debate vai reunir pesquisadores atuantes no assunto para troca de experiências e apresentação de projetos em andamento nas áreas de saúde pública, agricultura sustentável, engenharia de alimentos, engenharia ambiental e ciências sociais. O objetivo é contribuir para a elaboração de ações efetivas e duradouras no combate à desnutrição e à fome no País. A iniciativa está relacionada à Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) e aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Segundo a pró-reitora de Cultura e Extensão Universitária da USP, professora Maria Aparecida de Andrade Moreira Machado, o evento é uma forma de a USP se posicionar frente à situação que o País está vivendo em função da pandemia. Com o desemprego em alta, uma das consequências mais graves é justamente a fome. “Entre os assuntos sanitários e de saúde, esse é um desafio social muito grande. Não é apenas um aspecto social, mas acima de tudo humanitário”, afirma. O simpósio vai trazer, segundo ela, vários estudos que fomentam políticas ou que poderiam auxiliar os gestores públicos a estabelecer políticas que possam ser aplicadas no intuito de combater a fome. “Vamos juntos pensar realmente o que nós, como uspianos e como cidadãos, podemos fazer para combater a fome na nossa sociedade.”
“Entre os assuntos sanitários e de saúde, o combate à fome é um desafio social muito grande. Não é apenas um aspecto social, mas acima de tudo humanitário.”
Maria Aparecida de Andrade Moreira Machado
A professora comenta que os assuntos a serem discutidos no simpósio estão interligados. Uma discussão importante, segundo ela, é a vinda de pessoas do campo para as cidades, causando a superlotação e problemas inerentes a essa situação. Ela dá como exemplo comunidades onde de 10 a 15 pessoas moram num espaço de 15 metros, o que não deveria acontecer, ainda mais em uma situação de pandemia. “É preciso estimular a cultura familiar, sobretudo no interior”, aponta. Outra questão a ser abordada no evento é a sustentabilidade, incluindo a geração de lixo, seja ele orgânico ou não orgânico. “É preciso pensar não só na sustentabilidade ambiental, mas também nas pessoas que vivem da reciclagem.”
A questão da fome é um problema crucial, não só no Brasil
Para a pró-reitora adjunta de Cultura e Extensão Universitária, professora Margarida Maria Krohling Kunsch, coordenadora do simpósio, a proposta é trazer para o grande debate nacional toda essa problemática. Segundo ela, a questão da fome é um problema crucial não só no Brasil, mas em outros países subdesenvolvidos. “Sabemos que uma parcela grande da população vive em extrema pobreza, sem ter o que comer”, diz. E continua: “Essa é uma questão muito comentada e, em parte, assistida por lideranças da sociedade civil e movimentos sociais, no sentido de resolver o problema imediato da fome, em uma perspectiva assistencialista”. O simpósio promovido pela USP, informa a coordenadora, tem como principal objetivo reunir grandes especialistas de diversas unidades e áreas de conhecimento que estão trabalhando com o tema e, a partir dos debates, contribuir para o estabelecimento de políticas públicas.
“O simpósio da USP tem como principal objetivo reunir grandes especialistas de diversas unidades e áreas de conhecimento que estão trabalhando com o tema do combate à fome e, a partir dos debates, contribuir para o estabelecimento de políticas públicas.”
Margarida Maria Krohling Kunsch
O simpósio será formado por dois painéis. O primeiro, às 9h30, Produtividade Agrícola, Segurança Alimentar, Desnutrição e Políticas Públicas de Inclusão Social, terá a participação de três pesquisadoras: Maria Elisa de Paula Eduardo Garavello, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, que possui estudos em comunidades tradicionais ou locais (quilombolas, ribeirinhos, assentados e sociedades indígenas), com ênfase na segurança e soberania alimentar, sustentabilidade e autonomia; Tereza Campello, economista e professora visitante da Faculdade de Saúde Pública da USP, primeira titular da Cátedra Josué de Castro sobre Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis da FSP e ministra do Desenvolvimento Social entre 2011 e 2016, com ampla experiência em programas de combate à fome e à pobreza; e Maria Sylvia Macchione Saes, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, coordenadora do Núcleo de Pesquisa da USP Center for Organization Studies (Cors), com estudos sobre cadeias produtivas com base na biodiversidade para geração de emprego e renda nos Estados do Amazonas e São Paulo e sobre alimentos orgânicos. O mediador e debatedor será o professor Eduardo Cesar Leão Marques, docente do Departamento de Ciências Políticas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e diretor do Centro de Estudos da Metrópole (CEM).
No segundo painel, às 11h15, o assunto discutido será O Grito da Fome: Alternativas para Políticas Públicas para Uma Alimentação Sustentável. Entre os participantes está Maria Gasalla, professora do Instituto Oceanográfico da USP e colaboradora do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, com experiência na área de ciências pesqueiras e oceanografia, e membro do grupo de especialistas em pesca da Comissão de Manejo de Ecossistemas em diversas forças-tarefas ligadas à ONU, participando em iniciativas internacionais e locais. “A costa brasileira é enorme, mas se depara com a falta de políticas públicas para otimizar esse segmento da alimentação, que, inclusive, está sendo solução para muitas pessoas que vivem da pesca”, como lembra a professora Margarida.
Outro convidado desse painel é o professor Reinaldo Pacheco da Costa, do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP, coordenador do Programa Incubadora USP de Cooperativas Populares (ITCP) da PRCEU, que vem desenvolvendo trabalhos voltados para a inclusão social e a economia solidária.
A terceira convidada do painel é a professora Thais Mauad, do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, coordenadora do Grupo de Estudos em Agricultura Urbana do IEA, que estuda os impactos gerados pela agricultura urbana e possui um trabalho de referência sobre as hortas urbanas, “um possível caminho para se pensar nas grandes metrópoles e periferias”, nas palavras da coordenadora. A mediação será da professora Elisabete Maria Macedo Viegas, diretora da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, que tem experiência na área de aquicultura e recursos pesqueiros, atuando nos temas de nutrição e alimentação de peixes de água doce, processamento pós-despesca, conservação de pescado e aproveitamento de resíduos do processamento, entre outros.
Segundo a professora Margarida, o combate à fome “é um assunto que não se esgota nesses dois painéis, mas o simpósio é uma iniciativa da USP nessa direção, de contribuir com todas as suas áreas do conhecimento, uma vez que a Universidade tem um papel a cumprir junto à sociedade”. Com o evento, diz ela, “queremos trazer à luz não só o debate, mas estimular e incentivar sobretudo os nossos estudantes para que possam replicar essas iniciativas”.
A abertura oficial do encontro, às 9 horas, terá a presença do reitor da USP, professor Vahan Agopyan, e do vice-reitor Antonio Carlos Hernandes, além dos quatro pró-reitores da Universidade, de Cultura e Extensão Universitária, de Graduação, de Pós-Graduação e de Pesquisa.
O simpósio Políticas Públicas para o Combate à Fome acontece nesta quarta-feira, dia 12, das 9 às 13 horas, pelo canal do Youtube da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP. O encontro é gratuito, on-line e aberto a todos os interessados. Haverá emissão de certificado para os previamente inscritos que registrarem sua participação durante a transmissão. Inscrições disponíveis neste link. Mais informações estão disponíveis no site do evento.
Fonte: Jornal da USP
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