Para o imunologista e pesquisador Gustavo Cabral de Miranda, a pandemia demonstrou as dificuldades encaradas pelos pesquisadores e gerou aproximação com a população benéfica para a academia e a sociedade
A pandemia de covid-19 impôs um cenário de dificuldades para os pesquisadores no mundo inteiro. Diante do novo cenário mundial, que desafiou a comunidade científica internacional, criou avanços nas pesquisas. Ao mesmo tempo, esses desafios criaram uma nova visão da ciência aos olhos da sociedade que teve acesso à realidade da produção científica.
“Receber o desafio de uma pandemia nunca é fácil, porque está expondo vidas, e quando expõe vidas em risco é sempre uma questão muito forte para a gente”, contou ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição o imunologista Gustavo Cabral de Miranda, desenvolvedor de vacinas, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e Pós-Doutor pela Universidade de Oxford. Segundo ele, a pandemia demonstrou a necessidade de vigilância constante a eventuais situações que apresentem risco para a sociedade, assim como criou uma aproximação entre o mundo científico e social.
Entre os desafios impostos pela pandemia a pesquisadores, Miranda destaca a necessidade de direcionar esforços de forma quase exclusiva para o combate à covid-19 como exemplo. “Não tinha outra opção, tem que conectar, tem que desenvolver formas de adaptar sem perder o que nós já tínhamos feito e seguir em frente, porque a pandemia está aí”, coloca o pesquisador. Devido à necessidade de uma resposta rápida dos setores científicos para evitar uma maior perda de vidas, a comunidade científica teve de redirecionar seus esforços para a criação e compartilhamento para combater a covid-19.
Entre os desafios, a instabilidade de investimentos na produção científica é um dos principais. “A ciência, no geral, não dá resposta imediata, mas, quando responde, o resultado é contínuo”, diz Miranda. De acordo com ele, devido à utilidade do produto das pesquisas científicas não ser imediato, a área tende a sofrer com cortes de verba que atrapalham no desenvolvimento das pesquisas. O Brasil possui hoje uma capacidade de produção científica muito grande, mas essa instabilidade impede a criação e o desenvolvimento de novos conhecimentos.
Para o especialista, o principal desafio para o futuro da produção científica é manter a sociedade com os olhos abertos para a ciência. A pandemia aproximou a esfera acadêmica e social de forma nunca antes vista, o que ajudou na campanha de vacinação, por exemplo, mas é necessário que se mantenha essa proximidade. Por isso é importante manter o contato com a sociedade para que essa credibilidade não seja perdida e impeça que, no futuro, outros avanços possam ser alcançados. “Não adianta a gente imaginar a ciência sem a conexão com a sociedade”, conclui o pesquisador.
Fonte: Jornal da USP
Comentários