Espécie, que já era considerada extinta no estado, foi redescoberta em reserva particular e reproduzida in vitro para que possa ser reintroduzida na Mata Atlântica
Desaparecida das florestas atlânticas de São Paulo por meio século e considerada oficialmente extinta no estado desde 2016, a pequena orquídea Octomeria estrellensis ganhou uma nova chance na Mata Atlântica paulista. A orquídea de apenas dois centímetros foi redescoberta dentro da reserva particular Legado das Águas, localizada entre os municípios de Juquiá, Miracatu e Tapiraí, no Vale do Ribeira. A partir dos indivíduos encontrados, foi possível fazer a reprodução no laboratório de cerca de mil mudas, que poderão voltar a povoar as florestas paulistas.
A reintrodução da Octomeria estrellensis faz parte de um programa de conservação desenvolvido pela reserva de reprodução de espécies raras e ameaçadas da flora, e fruto de uma parceria com o Orquidário Colibri. Quando foi redescoberta, em 2017, 38 indivíduos foram recolhidos e estudados. Destes, 14 foram levados para o orquidário do Legado das Águas, onde foram polinizados manualmente para darem frutos. As sementes foram então enviadas para o Orquidário Colibri, onde foram reproduzidas com técnicas laboratoriais (in vitro) e submetidas às demais etapas de reprodução que deram origem a mil mudas da espécie.
Depois da reprodução no laboratório, as mudas de orquídeas serão cultivadas por mais 12 a 24 meses no orquidário da reserva, para que estejam aptas a sobreviver na natureza.
Os outros 24 exemplares da espécie foram realocados na trilha do Legado das Águas, e um foi herborizado segundo as técnicas convencionais e depositado no Herbário SP, do Instituto de Botânica de São Paulo.
O biólogo Luciano Zandoná, autor da redescoberta da Octomeria estrellensis e responsável pela estruturação do programa de conservação de orquídeas na reserva, já registrou 232 espécies de orquídeas no Legado das Águas entre 2015 e 2019. Destas, 14 constam na lista de espécies ameaçadas.
“Esse é um importante marco para flora da Mata Atlântica. Estamos falando de uma enorme possibilidade de ter evitado a total extinção da espécie na natureza. A Octomeria estrellensis é uma micro-orquídea endêmica do Brasil, ocorrendo somente na Mata Atlântica, fator que aumenta a necessidade de ações de conservação da espécie. Esse resultado mostra, na prática, como o investimento em pesquisa científica retorna como negócios viáveis”, comemora Zandoná.
O objetivo é que, futuramente, as mudas sejam destinadas para fomentar parcerias com outras áreas protegidas, para permitir a propagação da orquídea pelas florestas do estado. Outra possibilidade que tem sido discutida é a comercialização de orquídeas, como ferramenta para desestimular a coleta ilegal que ocorre, já que são plantas com alto valor ornamental.
Além de São Paulo, a micro-orquídea, que só ocorre no sudeste do Brasil, também já foi registrada nos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro, em florestas da região serrana. Em nível nacional, a espécie é classificada como “Quase Ameaçada” de acordo com avaliação feita em 2012 pelo Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora). A análise alerta, entretanto, que o seu valor ornamental e o declínio contínuo da qualidade do seu habitat podem levar a espécie a uma situação de risco de extinção em um futuro próximo.
Fonte: O Eco
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