A definição do provável futuro governo da Alemanha, encabeçado pelo social-democrata Olaf Scholz, prenuncia dificuldades adicionais no relacionamento do país com o Brasil de Jair Bolsonaro. Na BBC Brasil, Rafael Barifouse descreveu um momento curioso da cúpula do G20 em Roma, no mês passado, quando Scholz conheceu pela primeira vez o presidente brasileiro. Exceto por um cumprimento protocolar, o provável chefe da maior economia da União Europeia não trocou qualquer palavra com o líder da maior economia do Mercosul – uma indicação do estágio enregelante das conversas comerciais entre os dois blocos econômicos.
Os sinais não são positivos para o Brasil. O governo Bolsonaro foi incapaz de gerar qualquer simpatia no governo conservador de Merkel e a possibilidade de isso acontecer agora é ainda menor – afinal, os social-democratas têm relações históricas com partidos de centro-esquerda na América Latina, “bichos-papões” preferidos do bolsonarismo. O fato de Scholz ter o Partido Verde como principal aliado é outro obstáculo no caminho da diplomacia brasileira para aplacar os incômodos de Berlim com a política ambiental de Bolsonaro.
“Temas como desmatamento, clima e sustentabilidade vão crescer muito mais, tanto na Alemanha como na União Europeia”, disse o embaixador alemão Heiko Thoms em entrevista a’O Globo. “Existe um consenso na Alemanha e é importante compreender que esses temas não são de esquerda ou de direção política em especial, mas sim de todos os partidos, à exceção da extrema-direita”.
“A coalizão de governo anunciada na Alemanha confirma a tendência nos países avançados de colocar a questão ambiental no topo da agenda econômica, comercial e de política externa”, observou Lourival Sant’Anna no Estadão. “A união dos liberal-democratas (representantes do empresariado) e dos verdes torna esse o primeiro governo europeu da era ESG, da governança social e ambiental. Com reflexos diretos sobre o Brasil”.
Enquanto isso, existe a expectativa de que as novas regras da UE para restringir a entrada de commodities associadas ao desmatamento entrem em vigor já em 2022. O Globo Rural citou fala da ex-adida comercial da França no Brasil, Emily Rees, durante evento do Instituto Fernando Henrique Cardoso. Para ela, as regras não são uma novidade, mas sim fruto de discussões e consultas públicas que já vinham acontecendo nos últimos anos. Isso pode facilitar uma tramitação rápida dentro do Parlamento Europeu e dos governos nacionais da UE para sua aprovação nos próximos meses. Rees também sinalizou que as regras antidesmatamento da UE deverão contemplar o Cerrado, e não apenas o bioma amazônico, no caso brasileiro.
Fonte: ClimaInfo
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