Cientistas vêm avisando que a mudança do clima afeta o regime de chuvas no país, em especial na coluna vertebral do sistema elétrico composta pelos grandes reservatórios no Sudeste e Centro-Oeste. Leonardo Sakamoto, no UOL, comenta uma nota técnica do ministério de minas e energia que nunca veio a público. Ela reconhece que a mudança climática pesa na atual crise hídrica e que a tendência não é melhorar. Segundo Sakamoto, trata-se de uma análise técnica detalhada que recomenda levar em conta como a mudança do clima irá gradualmente reduzindo a capacidade dessas usinas. Mas para o consumo público, o governo segue a ladainha negacionista. O almirante Bento colocou a culpa toda no La Niña, que acabou em maio, e disse que não haverá racionamento.
Miriam Leitão, n’O Globo, conversou com gente que comandou a crise do apagão de 2001: para eles, houve uma negação da crise por parte do governo até soar o alarme em maio com o racionamento decretado em 1º de junho. Diferentemente de duas décadas atrás, a comunicação sobre a crise tropeça na falta de transparência do Planalto e de clareza sobre a gravidade dela. Assim, o governo perde tempo, apoio e recursos. Esse recado também saiu em um editorial do Valor.
Por exemplo, segundo o Estadão e O Globo, está-se preparando campanhas pedindo à população economizar água e eletricidade, do tipo encurte seu banho. Porém as residências brasileiras respondem por 31% da eletricidade consumida, enquanto indústria e comércio abocanham mais de 50%. Quase 80% da água que corre pelo país é usada pelo agro. Indústrias e cidades consomem menos de 9% cada uma.
O secretário executivo da recém-criada secretaria de mudanças climáticas do município de São Paulo falou ao Estadão que os governos da cidade e do estado tornaram a cidade melhor preparada para o enfrentamento da crise. Curiosamente, não mencionou as mudanças climáticas.
Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, falou ao Valor que o atual sistema de preços não está funcionando e que “os preços de energia estruturalmente vão subir no Brasil.” Vale mencionar que a tarifa elétrica para o consumidor residencial é bastante alta, levando em conta que a população é pobre e a água é de graça. Países ricos com tarifas mais altas pagam pelos gás e carvão queimados nas térmicas. Também vale mencionar que, regra geral, 20% da tarifa vai para os geradores, 20% para as distribuidoras e 50% são impostos e contribuições.
O diesel e a gasolina estão mais caros na saída das refinarias da Petrobrás e, ainda assim, estão defasados em relação ao preço internacional do petróleo que triplicou em relação ao de há pouco mais de um ano. Logo o preço internacional do gás acompanha. E a bandeira vermelha, que saltou 50% na semana passada, deve passar para a próxima cor tenebrosa que o governo inventar. Vale ver a matéria d’O Globo e o comentário da Míriam Leitão.
Fonte: ClimaInfo
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