Depois de revelar (com três semanas de atraso) a alta de 22% do desmatamento da Amazônia no último período de monitoramento de 12 meses, o governo federal está tentando responder às críticas que se avolumam dentro e fora do Brasil contra o desempenho ambiental da gestão de Jair Bolsonaro. Nesta 3ª feira (23/11), o Conselho da Amazônia realizou uma reunião para discutir os novos dados do sistema PRODES/INPE e organizar alguma resposta oficial à escalada do desmatamento amazônico, coisa que, convenhamos, não é fácil.
O general-vice Hamilton Mourão, que também chefia o Conselho, reconheceu que o governo não foi capaz de integrar o trabalho das Forças Armadas com os órgãos ambientais de fiscalização. “Se você quer um culpado, sou eu. Não consegui fazer a coordenação e a integração da forma que ela funcionasse”, disse Mourão.
Por falar em falta de integração, o Conselho se reuniu em Brasília sem a presença de dois ministros cruciais para qualquer estratégia bem-sucedida de combate ao desmatamento – o do meio ambiente, Joaquim Leite, e o da justiça, Anderson Torres.
Um dia antes, também em Brasília, Pereira Leite participou de uma coletiva de imprensa para fazer um balanço da participação brasileira na Conferência do Clima de Glasgow (COP26). O atraso na divulgação dos dados do PRODES teria acontecido exatamente para evitar que os números preocupantes do desmatamento na Amazônia prejudicassem o esforço de recuperação da imagem internacional do Brasil empreendido durante o encontro na Escócia.
Mais uma vez, o ministro do meio ambiente contestou que tenha sido comunicado sobre o resultado do PRODES antes da COP26, e afirmou que o governo vê os números do desmatamento como “inaceitáveis”. “Vamos ter mais recursos e mais homens. Com certeza seremos muito mais contundentes para eliminar o desmatamento ilegal na Amazônia”, prometeu Leite.
O problema é que está cada vez mais difícil para o governo conseguir alguém que deposite confiança (e, de preferência, dinheiro também) na política de combate ao desmatamento na Amazônia. Com o Fundo Amazônia ainda travado e sem a perspectiva de receber recursos internacionais, Mourão afirmou que o governo estuda a criação de um fundo nacional para projetos de preservação e combate ao desmatamento com recursos de instituições financeiras e empresas. “O Brasil tem plenas condições, com a quantidade, a gama de recursos que existe no mercado brasileiro, de conseguir colocar um fundo dessa natureza em pé e, consequentemente, a gente não ficar dependendo, vamos dizer assim, de dinheiro e recursos de outros países”, disse Mourão, citado pelo Metrópoles.
Correio Braziliense, Estadão, Folha, g1, Metrópoles, O Globo e Valor repercutiram as desculpas de Mourão e Joaquim Leite. O Jornal Nacional divulgou matéria sobre as falas de Mourão, com comentários contundentes e precisos de Adriana Ramos, do ISA, e Tasso Azevedo, do MapBiomas. No exterior, a Sky News também destacou a reação do governo Bolsonaro à alta do desmatamento amazônico.
Em tempo: O PSOL acionou o Ministério Público Federal para apurar a possível omissão por parte do ministro Joaquim Leite na divulgação dos dados sobre o desmatamento do PRODES, que aconteceu quase um mês após a submissão do relatório do INPE ao governo federal. Para o partido, a divulgação atrasada dessas informações, que aconteceu apenas após o encerramento da COP26, configura um ato de “improbidade administrativa”, com suspeita também de “possível prática de crime de prevaricação”. O Globo deu mais detalhes.
Fonte: ClimaInfo
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