Mesmo com as repetidas garantias públicas da ONU e do governo do Reino Unido acerca da realização física da próxima Conferência do Clima (COP26), prevista para novembro em Glasgow, negociadores e representantes da sociedade civil de países em desenvolvimento ainda enfrentam uma grande incerteza sobre a possibilidade de poderem efetivamente participar da COP. Além disso, a dificuldade dos países desenvolvidos em oferecer novos compromissos financeiros para destravar as negociações coloca uma dúvida ainda mais séria para as nações pobres: será que vale a pena participar da COP?
Na Reuters, Saleemul Huq (International Centre for Climate Change and Development) diz que a falta de ambição dos países ricos na questão do financiamento climático ficou latente na reunião do G7 no último final de semana. Para Huq, se não houver avanços nesse tópico até antes da COP26, o encontro será inútil para os países pobres: “Se o dinheiro não for entregue antes de novembro, não faz sentido que as nações vulneráveis à crise climática apareçam em Glasgow para conversar com governos que quebram suas promessas”.
Além da insatisfação com a falta de avanços, a pandemia segue sendo o obstáculo mais forte para a participação do mundo em desenvolvimento na COP de Glasgow. Como destacou Daniela Chiaretti no Valor, a desigualdade global da vacinação é uma “síntese perfeita e irônica dos tópicos que rodeiam as negociações internacionais em torno de capacitação e tecnologia, equidade e justiça, inclusão, recursos e conteúdo”. Se a ONU e os anfitriões britânicos quiserem mesmo que a COP26 seja presencial, a chave está na intensificação da vacinação nas nações mais pobres – e o tempo para que isso aconteça, considerando as 19 semanas até o encontro e o período de espera entre as duas doses de vacina (que pode chegar a até 14 semanas, dependendo do tipo) é muito pequeno.
Em tempo: Os EUA deram dois sinais importantes que poderão interferir bastante nas relações diplomáticas e comerciais com o Brasil. O primeiro, destacado por Daniel Rittner no Valor, é a aprovação pelo Senado norte-americano de um dispositivo dentro do pacote de inovação industrial do governo Biden que prevê a possibilidade de impedimento da importação de produtos atrelados a más práticas ambientais e violações dos direitos humanos. Já o segundo sinal, de acordo com Thomas Traumann na Veja, é o congelamento das negociações ambientais entre Washington e Brasília, precipitado pelas acusações de corrupção contra Ricardo Salles e pela saída do embaixador Todd Chapman da representação norte-americana no país.
Fonte: ClimaInfo
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