Previsto para ser inaugurado na Espanha, projeto é alvo de crítica de especialistas, que dizem que os animais, capazes de sentir dor e emoções, não devem ser criados comercialmente
Um projeto pioneiro para criação de polvos em cativeiro, previsto para ser inaugurado na Espanha em 2022, está atraindo críticas da comunidade científica, que pede a suspensão do empreendimento. O argumento é de que esse animais são seres “sencientes”, capazes de sentir de dor e emoções e, por isso, não deveriam ser criados comercialmente para a alimentação humana.
A pressão econômica para a criação comercial de polvos é grande, dado o alto consumo da iguaria. Anualmente, cerca de 350 mil toneladas de polvo são capturadas, volume 10 vezes superior ao registado em 1950. Há tempos, empresas estudam formas de criar em cativeiro o animal, que precisa de um ambiente cuidadosamente controlado e de alimentos frescos para suas crias.
Quem resolveu navegar por esses mares foi a multinacional espanhola Nueva Pescanova, que anunciou que começará a cultivar polvo em cativeiro no ano que vem de olho nas vendas do verão de 2023. A estimativa de produção é de 3.000 toneladas ao ano. A empresa não revelou as condições de criação dos animais, como o tamanho dos tanques, tipo de comida e forma de abatimento.
Recentemente, o governo britânico resolveu incluir as criaturas numa lei de proteção ao bem-estar animal, afim de reduzir a exposição a estímulos que lhe causem sofrimento. Após analisar mais de 300 estudos sobre senciência animal, os pesquisadores recomendaram o fim da prática de fervura do animal vivo, que consideram um método “extremo de abate”, bem como outras práticas comerciais, incluindo o cultivo em cativeiro.
Outro grupo de pesquisadores alegou que o projeto é “ética e ecologicamente injustificado”. A entidade de defesa dos animais Compassion in World Farming (CIWF) enviou uma carta aos governos de vários países – incluindo Espanha, Japão, México e Estados Unidos, onde há planos de desenvolvimento de fazendas de polvos – pedindo a proibição do cultivo comercial desses animais. A CIWF diz que a criação em cativeiro “os faria sofrer muito devido à sua natureza solitária e curiosa”, e destaca ainda a falta de qualquer método de abate humanitário aprovado.
“O filme da Netflix Meu Professor Polvo deu ao mundo um vislumbre comovente da vida desses animais selvagens únicos, naturalmente solitários e frágeis. As pessoas que assistiram ficarão chocadas ao descobrir que existem planos para confinar essas criaturas fascinantes, curiosas e sencientes em fazendas industriais”, diz a Dra. Elena Lara, autora do relatório.
Fonte: Um Só Planeta
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