Diretor do Instituto Juruá, o biólogo João Campos-Silva, recebeu, no início de 2021, o título de “Herói do Meio Ambiente” (Environmental Heros), concedido pela CNN Internacional aos 50 ativistas ecológicos de maior destaque no mundo.
A nomeação ocorreu por João ser um dos precursores do projeto de manejo do Arapaima, também conhecido como Pirarucu, e que vem recuperando este gigante dos rios da Amazônia após quase se tornar extinto.
João vive na floresta amazônica desde 2008, trabalhando na preservação de biodiversidade, no manejo dos recursos naturais e na proteção de áreas das comunidades indígenas.
A vida na Amazônia ele sempre conciliou com o estudo, que por sinal, é vasto: Mestre em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) e Doutor em Ecologia, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), além de um Pós-Doutorado na Universidade de Ciências da Vida na Noruega.
Em 2018 recebeu o prêmio de Jovem Cientista do Governo brasileiro e em 2019, o prêmio Rolex de Conservação. Atualmente é pesquisador pelo INPA e pela Universidade Federal de Alagoas.
Tanta dedicação tinha como finalidade obter meios e conhecimento para manter a população amazonense produzindo e vivendo em sua região, garantindo a produção de renda e a preservação da natureza.
O Instituto Juruá que preside está intimamente ligado as lideranças locais, dando suporte técnico para o manejo sustentável dos recursos naturais e proteção do território.
Gigante nos Rios
O Pirarucu é o segundo maior peixe de água doce do mundo e o maior com escamas. As escamas inclusive, servem para protegê-lo das mordidas das piranhas, comuns na região. Ele atinge até 3 metros de comprimento e 250 quilos de peso.
Habita a bacia amazônica, em especial as calmas áreas de várzea. É uma espécie carnívora e que tem um crescimento muito rápido, vital para a sobrevivência de muitas comunidades ribeirinhas.
Na culinária, o Pirarucu é muito apreciado, sobretudo nos estados do Pará e Amazonas e é o ingrediente principal de vários pratos típicos, como o Pirarucu à Casaca, a Moqueca de Pirarucu e o Pirarucu no Tucupi.
Além de prover mais de 600 tribos indígenas de proteína, o Pirarucu representa quase um ser sobrenatural para os povos e sua pesca com arpão é um ensinamento passado de geração para geração.
O nome, Pirarucu em Tupi, significa “peixe vermelho” e está envolto em lendas e histórias indígenas. Uma delas, diz que o grande Deus Tupã, transformou um jovem maldoso e egoísta em peixe para que ele aprendesse que suas condutas eram erradas.
A importância cultural do Pirarucu e a escassez que passou a apresentar nos rios da região, levaram as comunidades indígenas a apoiar incondicionalmente o jovem biólogo João, quando ele propôs uma maneira de recuperação e cultivo da espécie.
Um projeto de apoio e troca e conhecimentos
O projeto conta fundamentalmente com a participação da população local e consiste na criação de lagos de reprodução ao longo do Rio Juruá, onde os peixes são monitorados. Os ribeirinhos constroem suas casas de madeira em palafitas na entrada dos lagos e fiscalizam para evitar ações de pescas não autorizadas e furtos.
Com base no censo populacional da espécie, os habitantes da comunidade podem explorar sua cota, garantindo sua renda sem prejudicar a renovação de indivíduos.
O Instituto Juruá baseia-se no protagonismo das comunidades locais, que aportam seu conhecimento secular, somados às pesquisas cientificas que garantem o sucesso do projeto. Tudo com muito respeito as diferenças culturais e a inclusão da mulher no processo de produção e participação social.
Com a pesca, os ribeirinhos passam a ter uma melhora na qualidade da sua própria vida e da comunidade local com a geração econômica no entorno do projeto.
Mas o manejo não trouxe a preservação apenas do Pirarucu. A preservação foi estendida a outras espécies – como jacarés, botos e tartarugas – fruto da disseminação da conscientização ecológica que a comunidade adquiriu.
Benefícios sociais
A produção está concentrada no Médio Rio Juruá no município de Carauari e adjacentes que incluem os municípios de Itamarati e Eirunepé, estado do Amazonas. No total são mais de 900 mil hectares e 45 comunidades.
O Instituto trabalha ainda na possibilidade de exportar o peixe salgado, podendo aplicar maior valor agregado a produção local e com isso aumentar o preço de venda do peixe.
Além disso, o desafio agora é estender o projeto para os 2 mil quilômetros de extensão do Rio Juruá, trazendo esperança para a fauna e para a vida digna da comunidade em torno do rio.
Por um trabalho tão completo de envolvimento ambiental, social e valorização da cultura local, o prêmio recebido é mais do que merecido! Parabéns, João! Que venham muitos outros!
Para conhecer mais sobre o projeto acesse: www.institutojurua.org.br
Fonte: Ciclo Vivo
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