Enquanto o governo brasileiro tenta aliviar sua barra nas conversas internacionais, a Amazônia segue em situação dramática. Dados do sistema SAD (Imazon) mostraram que março passado registrou o maior nível de desmatamento para o mês em dez anos: a Floresta Amazônica perdeu 810 km2 de área verde, um aumento de 216% em relação a março de 2020. Pará (35%) e Mato Grosso (25%) concentraram sozinhos mais da metade do desmatamento registrado no último mês, seguidos por Amazonas (12%) e Rondônia (11%). O acumulado no 1º trimestre de 2021 também preocupa: de janeiro a março, a Amazônia perdeu 1.185 km2 de floresta, mais do que o dobro do registrado em 2020, o maior número em dez anos. G1 e UOL deram mais detalhes.
No Xingu, o monitoramento feito pelo sistema Sirad X (Rede Xingu+ e Instituto Socioambiental) reforçou a vulnerabilidade crescente da Floresta Amazônica ao avanço do desmatamento. Segundo a análise, de 2018 a 2020, a bacia do Xingu perdeu mais de 513 mil hectares de floresta, uma área equivalente a do município de Belém (PA). O principal temor é de que o desmatamento acabe por dividir o Xingu, especialmente a partir da BR-163, entre Altamira e São Félix do Xingu. Phillippe Watanabe abordou esses dados na Folha.
A intensificação do desmatamento é um atestado da falta de um plano efetivo e viável para promover atividades econômicas que gerem renda e empregos na Amazônia e que contribuam para manter a floresta em pé. Nesta 2ª feira (19/4), o Valor e Uma Concertação Pela Amazônia realizaram o primeiro webinar para discutir os obstáculos para o desenvolvimento sustentável na região, com reflexões interessantes de seus participantes. Por exemplo, o ministro do STF José Roberto Barroso, citou a perspectiva de regularização fundiária de terras griladas, encampada pelo governo Bolsonaro, como um estímulo para o desmatamento. Já a economista Laura Carvalho (USP) defendeu um plano de infraestrutura verde, focado em saneamento básico, despoluição dos rios e acesso à internet, como ponto de partida para promover atividades econômicas mais sustentáveis. Ana Toni (Instituto Clima e Sociedade), por sua vez, apontou que o debate sobre desenvolvimento sustentável na Amazônia não pode se resumir ao poder público e que precisa ser mais inclusivo, com vistas a aproveitar eventuais sinergias entre governo, sociedade civil e iniciativa privada.
Pelo lado econômico, o ex-ministro Joaquim Levy destacou que o avanço da degradação florestal na Amazônia pode causar um “prejuízo incalculável” para o Brasil. Na questão externa, Beto Veríssimo (Imazon) e Armínio Fraga (ex-presidente do Banco Central) lembraram da Cúpula Climática desta 5ª feira (22/4) e as oportunidades que ela pode abrir para o Brasil – caso o governo Bolsonaro não as ignore.
Fonte: ClimaInfo
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