“Não será muito diferente do que poderá ocorrer nos próximos meses, quando as atividades econômicas se normalizarem e o ciclo da pandemia se arrefecer. Poderemos assistir ao crescimento trimestral do PIB, entre 3 a 5 por cento, sem que haja necessariamente um descontrole da inflação, dada a disponibilidade de fatores de produção subutilizados.”
Paulo Roberto Haddad
__________________________
O que esperar da economia brasileira no segundo semestre deste ano? Haverá uma retomada do crescimento econômico? As taxas de desemprego e do subemprego deverão cair? E a inflação poderá se acelerar? Conforme as respostas dadas a essas indagações, as condições de vida do povo brasileiro poderão melhorar ou piorar ainda mais.
O ponto crítico para avaliar tais questões está nas controvérsias sobre o que deverá ocorrer com a descompressão da demanda agregada da economia nacional, reprimida durante todo o ciclo da pandemia do novo coronavírus. Por diferentes motivos, famílias e empresas adotaram uma estratégia de contenção financeira, reduzindo os seus níveis de consumo e de investimento diretamente produtivo.
Assim, expandiram-se as diferentes formas de aplicações nos mercados financeiros, principalmente aquelas que apresentaram maior grau de liquidez, levando em conta os motivos de transação e de precaução. Em um horizonte de incertezas sobre o futuro da economia, a preferência pela liquidez prevalece, independentemente da taxa real de juros ser atrativa ou não.
Forma-se, então, um ciclo de causação circular cumulativa de baixo crescimento econômico: na recessão, cai a demanda de bens e serviços de consumo e de bens de capital, o que leva ao desemprego e ao subemprego da mão de obra e à formação de capacidade ociosa no sistema produtivo; as expectativas sobre o futuro da economia se deterioram, postergando-se assim as decisões de consumir e de investir. Ocorre, então, uma profecia autoconfirmada. Ou seja, quando as pessoas esperam ou acreditam que algo acontecerá, agem como se a previsão fosse real e, assim, essa previsão acaba por acontecer efetivamente.
Quando, na economia, a demanda agregada é reprimida durante um longo período, a sua descompressão tem a capacidade de gerar taxas de crescimento muito elevadas. São muitos os exemplos históricos: os períodos de crescimento acelerado após as Grandes Guerras; após grandes desastres naturais ou ecossistêmicos em sua fase de reconstrução infraestrutural; após o fim das superinflações ou das hiperinflações, com a recomposição do poder aquisitivo da massa salarial decorrente do fim do imposto inflacionário, etc.
Não será muito diferente do que poderá ocorrer nos próximos meses, quando as atividades econômicas se normalizarem e o ciclo da pandemia se arrefecer. Poderemos assistir ao crescimento trimestral do PIB, entre 3 a 5 por cento, sem que haja necessariamente um descontrole da inflação, dada a disponibilidade de fatores de produção subutilizados. A recuperação dos níveis de utilização da força de trabalho deverá ocorrer em ritmo mais lento do que a expansão do PIB.
Trata-se, contudo, de um processo de renivelamento da demanda agregada, o qual deve apresentar ritmo decrescente de expansão ao longo dos trimestres de 2022. Uma retomada do crescimento da economia por renivelamento, sem as ilusões da emergência de um novo ciclo de expansão.
Comentários