Uma má gestão dos recursos hídricos e a prioridade dada aos reservatórios das usinas hidrelétricas pode ter agravado a situação da falta de chuvas no Sudeste no final do ano passado.
A ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, conversou com O Eco dizendo que faltou visão no ano passado quando se fez uma aposta de que choveria mais no final do ano e, assim, não houve preocupação em poupar água nos reservatórios. Mesmo tendo ligado as termelétricas, “não adianta culpar o Santo. A responsabilidade da crise reside no plano da Terra, mais especificamente em Brasília, na Esplanada dos Ministérios.”
A crítica de Izabella se junta à de Elena Landau, feita em artigo no Estadão, no qual reclama da falta de transparência por parte do governo e, em especial, do ministro Bento de Albuquerque. A MP do Racionamento deu poderes especiais ao ministro para gerenciar a crise e Izabella e Elena lembram dos usos múltiplos da água. Landau lista as “exigências de navegação, ambientais (por exemplo, evitar mortandade de peixes), abastecimento de cidades, irrigação e até atividades esportiva e turística”, e diz que, agora, “alguém tem de administrar a escassez.”
Gustavo Veronesi, Cesar Pegoraro e Marcelo Naufal, da Fundação SOS Mata Atlântica, afirmaram no Ecoa que “a gestão integrada da água e da floresta é estratégica para o país. Sem floresta não há água. Combater o desmatamento na Amazônia e restaurar a Mata Atlântica – florestas que mantêm o equilíbrio do ciclo hidrológico, é o caminho que o Brasil deve trilhar para minimizar os impactos do clima sobre os recursos hídricos”.
Na contramão da imperiosa necessidade de enfrentar a mudança do clima, o pessoal do gás é um dos beneficiados pela crise hídrica. Uma matéria do Estadão comenta a expansão das térmicas a gás no litoral do Sudeste, próximo das plataformas das bacias de Campos e do pré-sal. Há novos projetos em Macaé e no Açu, no Rio, e uma expansão em Cubatão. Essa é mais uma espiral da morte: ter mais térmicas fósseis implica mais aquecimento global, o que agudiza as crises hídricas, aumentando a pressão por mais térmicas fósseis.
Uma crise dessas desarticula o funcionamento do sistema elétrico em vários pontos. Uma matéria do Valor fala das comercializadoras e seu papel no funcionamento do mercado livre, onde há contratos diretos entre geradores e empresas consumidoras. Várias comercializadoras estão sem fazer operações há mais de um ano e o receio dos reguladores é de uma quebradeira em cascata. Ao acionar as termelétricas, o governo fez o preço da eletricidade no mercado livre, o PLD, bater no teto, afetando diretamente o fluxo de caixa das comercializadoras.
Fonte: ClimaInfo
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