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Augusto César Barreto Rocha (*)
Inimigos externos são ótimos para unir a população de uma região. Na Zona Franca de Manaus (ZFM) estamos sempre com inimigos externos, podendo ser São Paulo, Piauí ou algum Ministro de plantão. Sempre nos sentimos atacados e com isso buscamos alguma reunião de interesses comuns, enveredando por um combate que envolve a proteção de benefícios fiscais (legais e ainda fundamentais, diga-se de passagem). Não me lembro de outro tema que una tão fortemente o Amazonas quanto este. Isso é ótimo, pois há uma pauta em comum.Todos os ovos numa única cesta
Entretanto, este samba de uma nota só pode nos transformar em vítimas de fato. Afinal, todos nossos ovos estão vindo de uma única cesta e de uma única galinha que coloca os tais ovos de ouro. E como esta galinha vem sendo tratada? Ruas esburacadas, regras instáveis, falta de clareza para novos produtos e várias outras formas de descrédito. Tanto que o resultado é declinante em dólar, mesmo sem descontar a inflação. Há um resultado declinante e não se verificampreocupações ou ações contra isso.
O mundo cada vez mais tende a ter barreiras comerciais e tributárias reduzidas, mas parece que nos negamos a considerar isso como inexorável. É quase como negar a globalização (sei que há quem acredite nisso). E o que temos feito para trazer alternativas econômicas para o Estado do Amazonas? Quais as atividades produtivas alternativas? Quais são os outros componentes do PIB do Estado que não dependem direta ou indiretamente da ZFM? Eles crescem?
Temos pressa…
Enquanto não existirem ações concretas seremos escravos de uma única fonte de emprego, imposto e receita para cá. É fundamental que se crie algum senso de urgência e que as lideranças comecem a lutar pelo fim das desigualdades que nos compelem a ter a ZFM com este papel tão relevante. Quando ela tinha um prazo relativamente curto, isso era visível, mas com a perigosa prorrogação de 50 anos, o problema parece ser da próxima geração… e no Brasil quem está preocupado verdadeiramente com a próxima geração?
Entendo que devem existir ao menos duas frentes sobre esta questão: (1) Esforço conjunto pela preservação das vantagens comparativas da ZFM; (2) Busca frenética por meia dúzia de alternativas para o Amazonas, conjugada com a resolução dos problemas históricos de infraestrutura. Se não existirem esforços nas duas direções estaremos sempre com esta espada de Dâmocles pairando sobre nossas cabeças. Ótimo para masoquistas e vendedores do medo.
A crise ainda não cedeu
Se o leitor não percebeu, US$ 25.35 bilhões faturados no ano passado é um encolhimento, e nem foi preciso descontar a inflação em dólar. O que se faz? Busca-se uma conversão para Reais, tentando encontrar sucesso em meio ao fracasso. Quando se olham empregos (mesmo sem considerar o crescimento vegetativo da população), também se verifica encolhimento. O que se faz? Busca-se a média de emprego mensal. Ora, seguimos em um processo crônico de negação de uma crise. Em 2011 se faturou US$ 41.237 bilhões. Um número semelhante ao último ano foi 2007 – US$ 25.671 bilhões. Quando assumiremos que estamos em crise?
A ZFM está e segue em crise. Por que temos medo de afirmar isso com todas as letras? Afinal, um segundo fator para união de uma sociedade é um forte desejo de sair de uma crise. Países ricos quando não têm crises, inventam crises ou guerras, para manter o ânimo forte. Temos realmente este forte desejo ou será melhor sermos os coitados do Norte que precisamos de apoio para manter a benesse fiscal eternamente? O que gostaria de ver além de uma forte união contra os inimigos da ZFM seria um forte desejo e um conjunto de ações para sair da crise.
Gostaria de ver uma ampla união a favor de nosso desenvolvimento e contra todos os desperdícios de oportunidades. Por que ainda não vemos ninguém nesta direção? Por que todos falam dos problemas de infraestrutura e logística, mas não se faz nada? Quais os interesses que nos prendem a um passado que não voltará? Somos vítimas de nós mesmos e de nossa incapacidade de agir no presente para a construção de um futuro melhor. A negação da história não ajuda em nada. Somos nossos maiores algozes.
(*) Professor da UFAM.
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