Farid Mendonça Júnior
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Você aceitaria passar o bastão de primeiro lugar de mão beijada? Aceitaria na maior tranquilidade perder o posto de líder? Bom, é provável que não. Alguma resistência você ofereceria, por mais desvantajosa que fosse a situação.
Quem vai liderar o mundo?
Estamos neste exato momento testemunhando uma mudança no posto da grande potência mundial e que comandará o mundo daqui pra frente.
Trata-se de um momento raro, que não acontece com frequência, que demora séculos e as vezes até milênio pra ocorrer.
Muitos impérios
A civilização Egípcia já nos liderou, bem como os Gregos. Talvez a maior referência de liderança enquanto potência, da época, tenha sido Roma. Durante a Idade Média, do outro lado do mundo, o antigo império chinês dava as cartas. Mas como não havia naquela época a globalização, os chineses eram fechados e a história foi contada pelos ocidentais, pouco se dá ênfase a este apogeu chinês.
Tivemos também a hegemonia da Espanha, da França e da Inglaterra, e duas tentativas sem êxito da Alemanha, na qual a última tentativa, a segunda guerra mundial, foi responsável pela morte de mais de 50 milhões de pessoas.
Mudanças em guerra
Dois fatos comuns nestas situações. O primeiro é que todos eles queriam estar e/ou se manter no topo. O segundo é que ninguém entregou o bastão facilmente, sem a ocorrência de guerras.
Antes do Império Romano do Ocidente definitivamente cair (476 DC) muitos conflitos bélicos ocorreram, tanto dentro do império, bem como com os inimigos que eram identificados, na visão do império romano, simplesmente como bárbaros.
Padrão sanguinolento
Enfim, muito sangue derramado, muitas mortes, e um novo recomeço. Este é o padrão histórico e padrões costumam se repetir.
Se o cidadão do mundo moderno anda preocupado com a atual pandemia, deveria estar mais preocupado ainda com a real possibilidade de um grande conflito armado.
E isso se dá no momento em que cada vez mais os Estados Unidos se enfraquecem economicamente, enquanto a China cada vez mais se fortalece na economia, no mercado financeiro, na geopolítica e no aparato militar.
Estratégia e inteligência
Até aqui a China fez um jogo estratégico inteligente, passo a passo, lento e gradual, e sem fazer muito barulho.
Barack Obama, já como Presidente dos EUA, chegou a ser flagrado com o livro The Post-American World (o mundo pós América), de Fareed Zakaria. Talvez Obama já estava prevendo a decadência do império americano e o surgimento de outro.
Era Trump
Quando Donald Trump chega ao poder, e percebendo a emergência de uma China forte como nunca e em condições de ameaçar a liderança dos EUA, impõe mudanças na política externa, que afetariam o comércio mundial, o deslocamento de parte do setor produtivo de volta para solo americano, bem como a redução da tributação como tentativa de tornar a América mais atrativa ou grande de novo, como era o slogan da campanha.
Um pequeno ponto aqui. Donald Trump queria fazer da América “great again” (grande de novo). Então, por questão de lógica, a América deixou de ser faz um certo tempo, não?
E depois da Pandemia
Os chineses, um pouco relutantes, resolveram “ceder” diante da guerra comercial promovida por Trump e aceitaram aumentar as importações provenientes dos EUA.
Bom, isso tudo foi pré-pandemia. E agora?
Em 2020, estima-se que somente dois países irão obter crescimento econômico, Índia e China, enquanto os demais irão amargar uma forte recessão decorrente da pandemia, e um dos países mais afetados será os Estados Unidos, o qual lidera no número de casos de Covid-19 e no número de mortes.
Caso o Produto Interno Bruto dos EUA caia cerca de 10% em 2020, já será o suficiente para mais do que acelerar o processo de transferência do comando mundial.
As cartas já estão lançadas
Ao se enfraquecer economicamente, os Estados Unidos também irá se enfraquecer no aspecto geopolítico e militar, enquanto que a China irá sair desta pandemia intacta nestes mesmos critérios e muito mais bem posicionada no que se refere a produção mundial e o comércio internacional.
As cenas do futuro são imprevisíveis. A lógica do mercado é diferente da lógica da política. Atritos e conflitos certamente vão existir. E com certo grau de certeza os EUA não vão querer entregar o bastão tão facilmente.
As cartas estão lançadas, resta saber quando a “Roma” atual vai cair e ceder o poder hegemônico para a nova “Roma”, desta vez oriental.
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