Nelson Azevedo(*)
“…afinal a geração de riqueza, no universo exuberante da floresta, não pode ser um fim em si mesma. Economia, meio ambiente e cidadania, aqui, agora e sempre, não poderão caminhar separados“.
Desde os primórdios da instituição da Geologia como área nobre da economia nas universidades, a Amazônia foi reconhecida como a maior bacia sedimentar do planeta. Isso significa, em poucas palavras, que qualquer aluno de graduação é capaz de deduzir que está floresta é a pátria dos hidrocarbonetos, além de morada da biodiversidade. Talvez esta seja uma das provas mais eloquentes de que o Brasil segue de costas desde sempre para a Amazônia, mesmo quando os portugueses conseguiram torná-la brasileira. O mundo inteiro a cobiça, enquanto o Brasil a ignora. Assim fica fácil entender porque a Petrobras, por razões “corporativas”, está deixando nossa região, onde estão as maiores jazidas de hidrocarbonetos do território pátrio.
A Amazônia é maior que seus gestores
Além das razões contábeis, decorrentes da análises de mercado, reconfiguração da matriz energética etc., etc., essa decisão nada inclui do papel histórico que representamos para o país, apesar de sermos região remota, para a qual o Estado Brasileiro, em determinado momento, reconheceu formalmente uma significação estratégica pelo conjunto de oportunidades de seu patrimônio natural. Contribuímos com 45% do PIB na Era da Borracha, hoje, sozinha, Manaus é o quarto maior contribuinte aos cofres federais. Decididamente, merecemos respeito posto que a Amazônia é muito maior do que a habilidade de seus gestores em compreender seu lugar e contribuição para a construção da civilização brasileira.
Nossa vez, voz e direitos
Virão outras empresas que se valerão dos ativos de nosso patrimônio e exercerão as mesmas funções desta emblemática empresa mais do que petroleira, diz o porta-voz da Fazenda Estadual, de quem a Petrobras se queixa historicamente. “Somos uma galinha dos ovos de ouro pois recolhemos 25% da receita estadual do ICMS, mas somos tratados como sonegadores”. Isso foi citado por Serafim Corrêa, deputado estadual que vê com preocupações essa decisão de afastamento. Nossa habilidade em negociar é próxima de zero.E nossa vez e voz para gritar por direitos são levadas a pagode.
Nacionalismo é diferente de brasilidade
Basta lembrar que 30% do território estadual amazonense está fora do Sistema Nacional de Energia e depende da matriz energética do gás e óleo que a Petrobras vai colocar à venda. Sequer tivemos a chance de implantar outras alternativas energéticas. Cumpre lembrar que, tanto na Bahia como no Rio de Janeiro, onde a empresa privatizou os combustíveis, a população teve que aceitar os novos critérios tarifários. Ou seja, sempre colocados nas costas dos consumidores e bônus para os investidores. Há uma diferença absurda entre nacionalismo e brasilidade.
Sem visão de futuro
Provavelmente, a empresa deve alegar que não promoveu investimentos de desenvolvimento tecnológico na região por conta da “extorsão” fiscal do Estado. Isso não se justifica, pois essa recusa de priorizar tecnologia obrigou a Petrobras refinar o excelente produto extraído no interior do Amazonas nas refinarias baianas. Pouco ou quase nada foi agregado à Refinaria Isaac Abraão Sabbá, desde que foi estatizada pelo governo militar nos amos 70. Mesmo assim, não podemos dizer, em hipótese alguma, já vai tarde!
A presença judaica na Amazônia
Afinal, quando foi criada nos anos 50, logo após ao encerramento do II Ciclo da Borracha, a Refinaria de Manaus, emblema da ousadia e determinação da presença judaica na Amazônia, impulsionou o desenvolvimento regional com muito mais consistência e compromisso do que o financiamento de reativação da economia da borracha, promovido na década anterior, pelos norteamericano, para poder utilizar suas máquinas de guerra e assegurar a vitória a II Guerra Mundial. Eles viraram um império global a partir e por conta do período de reconstrução da Europa, enquanto a Amazônia voltou à estagnação econômica.
Mais protagonismo menos corporativismo
Sem a Petrobras, perderemos empregos e, mais do que isso, perderemos a oportunidade de tomar decisões conjuntas à luz do interesse público. Ficar ou sair não pode ser uma decisão restrita ao Conselho de uma empresa, sobretudo se ela for orientada pelo ideário liberal, que prioriza o lucro sem fazê-lo com o mesmo empenho com relação ao interesse do cidadão. Só nos resta um caminho: assumir o protagonismo de quem gera riqueza levando em conta nosso contexto geopolíticos. Nossa região, na visão de quem aqui empreende, por sua definição estratégica, não pode se submeter a decisões corporativas que impliquem danos ao interesse maior do tecido social, afinal a geração de riqueza, no universo exuberante da floresta, não pode ser um fim em si mesma. Economia, meio ambiente e cidadania, aqui, agora e sempre, não poderão caminhar separados.
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