“O nosso grande risco pós-pandemia é nos contentarmos com a armadilha do equilíbrio de baixo nível do produto nacional, sem reduzir sensivelmente o desemprego. Um convite para tensões sociais e políticas, pois como dizia Vilfredo Pareto: numa economia estagnada ninguém pode enriquecer sem que alguém empobreça.”
Paulo R. Haddad*
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A pandemia do coronavírus não pode ser considerada como se fosse apenas um acidente de percurso na história da Humanidade. Mesmo levando em conta o atual progresso da ciência e dos meios de comunicação, a pandemia, pelas suas características inéditas, terá profundos e desestruturantes impactos sobre a evolução das economias e das sociedades ao redor do Mundo.
No caso do Brasil, no início deste ano o quadro geral do mercado de trabalho pré-pandemia estava constituído por quase 27 milhões de trabalhadores desempregados, subempregados e desalentados. A taxa de desemprego entre jovens de 18 a 24 anos de idade ficou em 27,1 por cento, no primeiro trimestre de 2020. E a lenta expansão da economia, desde 2014, chegou a uma taxa negativa do PIB per capita neste primeiro trimestre. O ponto de partida pré-pandemia já era então dramático.
O que esperar dos mercados de trabalho no período pós-pandemia? Se o Governo Federal não realizar mudanças de grande intensidade na atual política econômica, a taxa de desemprego pode se aproximar de 20 por cento no final do ano e a renda média do trabalho poderá cair 15 por cento, segundo a FGV, num contexto de excedente de oferta da mão de obra.
Práticas ortodoxas e não ortodoxas
Essas mudanças são indispensáveis para um confronto impactante contra o desemprego e os seus efeitos psicossociais dilacerantes entre as famílias brasileiras. Felizmente, o receituário doutrinário da atual política econômica não é único, apesar de sua prepotência intelectual. Pesquisadores da Escola de Governo da Universidade de Harvard têm analisado as experiências bem-sucedidas de desenvolvimento, em quase 100 países dos cinco Continentes,no pós-Segunda Grande Guerra.
Esses estudos mostram que as reformas das políticas econômicas, que levaram a processos de crescimento acelerado e sustentado, combinaram elementos de práticas ortodoxas e não ortodoxas, associados a um pequeno conjunto dessas reformas. A sua mensagem principal é clara: políticas econômicas que são concebidas e implementadas por decisões enrijecidas por compromissos ideológicos primários são menos dóceis à realidade histórica, menos pragmáticas e podem nos conduzir a grandes desastres sociais e econômicos.
Mais demandas e mais produção
Num contexto de incertezas, de imensa capacidade ociosa no sistema produtivo, de grande massa de desemprego involuntário e de queda na renda das famílias, empresários não irão empregar mais trabalhadores apenas porque o governo reduziu os seus encargos e custos fiscais. As empresas necessitam é de mais demanda interna ou externa para gerar mais produção, renda e emprego.
O nosso grande risco pós-pandemia é nos contentarmos com a armadilha do equilíbrio de baixo nível do produto nacional, sem reduzir sensivelmente o desemprego. Um convite para tensões sociais e políticas, pois como dizia Vilfredo Pareto: numa economia estagnada ninguém pode enriquecer sem que alguém empobreça.
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