A imagem coletiva e de patrimônio imaterial que o antigo hotel Cassina tem junto à população amazonense foi uma das preocupações principais do projeto arquitetônico criado para conectar o passado, o presente e o futuro desta emblemática edificação, que, atualmente, possui 85% de conclusão. O futuro “Casarão da Inovação Cassina”, nome escolhido por votação on-line, será uma das marcantes obras da gestão do prefeito Arthur Virgílio Neto, dentro do programa “Manaus Histórica”, com recursos do Tesouro Municipal e previsão de entrega para fim de outubro.
Para o prefeito Arthur Neto, o novo polo de tecnologia será o responsável por elevar o patamar de Manaus e sua competitividade no segmento. “A valorização do centro histórico sempre esteve presente na nossa gestão, com resgate de sua história, da identidade e da cultura. E o antigo hotel Cassina, completamente revitalizado, nosso ‘Casarão da Inovação’, ocupa um lugar especial nisso, transformando-se em um templo da economia 4.0, com um polo de alto conteúdo tecnológico. Essa é uma das obras que coroam o que nossa gestão buscou realizar nos últimos anos”, avaliou.
Os quatro pavimentos da área de quase 1.600 metros quadrados foram projetados para dar ao visitante, usuário e público em geral o valor da memória popular e cultural associado ao bem histórico na construção do futuro centro de inovação, digitalização e preparação, que promete ingressar a capital amazonense na economia 4.0 e na rota de empresas de inovação. O imóvel, localizado na rua Bernardo Ramos, na confluência das ruas Governador Vitório e Frei José dos Inocentes, terá amplas áreas envidraçadas, escada em aço e espaços generosos de vegetação que dão ao ambiente uma amplitude espacial de qualidade.
A área de transição do jardim, com paisagismo de floresta exuberante e tropical, associado ao vidro, às transparências e ao aço, vai mesclar a história da ruína do Cassina com o futuro do polo digital em reflexos nas áreas envidraçadas. “Essa dimensão espacial, os reflexos e a transparência da construção são noções muito ligadas à tecnologia, à virtualidade, dando contemporaneidade ao projeto”, explica o autor do projeto, o arquiteto Laurent Troost, diretor de Planejamento do Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb).
O jardim estará posicionado por trás da fachada histórica que faz frente à praça Dom Pedro II. A fachada nova, inteiramente envidraçada, será, portanto, erguida em um plano recuado em relação à fachada existente, o que irá evidenciar e valorizar mais o perfil histórico de décadas.
As fachadas marcantes da edificação estão preservadas com suas características originais. O projeto prevê a limpeza, a consolidação e a proteção de uma característica original e específica do antigo hotel Cassina: o edifício é o último representante em Manaus de fachada com argamassa pigmentada com pó de pedra jacaré.
A técnica original usada para o acabamento das paredes externas consiste em um tipo de argamassa aplicada para nivelamento da parede, que já é pigmentada com uma cor geralmente forte. Esse processo geralmente era aplicado em prédios públicos e estabelecimentos mais nobres e tinha a função de dar um destaque maior para o prédio entre as outras edificações, valorizando e causando imponência.
Os jardins vão criar áreas de contemplação e de circulação, servindo como área de transição entre a praça de tipo “jardim romântico” e a intervenção contemporânea no coração do hotel Cassina; uma passagem entre a história e o futuro. Além de criar um microclima, favorecendo a ventilação natural, esse pátio tropical será também a oportunidade, acessando o novo polo de tecnologia pela passarela, cruzando o vazio sobre o jardim, de todos lembrarem a razão intrínseca da cidade de Manaus: a floresta.
A obra
O espaço terá um subsolo para abrigar todas as funções técnicas, assim como a sala de formação, enquanto o térreo abrigará a recepção, um lounge e as principais salas de reunião e laboratórios. O primeiro pavimento propõe três salas de reunião e um plano de trabalho aberto.
O pavimento superior apresenta um espaço para café/restaurante recuado em relação ao plano das fachadas, com vista privilegiada aos usuários, que vão poder olhar a praça Dom Pedro II e suas copas de árvores, o Teatro Amazonas, o centro histórico, o Museu da Cidade e o rio Negro, a partir do terraço panorâmico.
“Entramos na fase final e os próximos serviços serão concentrados nas instalações de esquadrias, vidros, revestimentos, pintura, acabamentos, testes e subestação. Teremos um prédio belíssimo, revitalizado, bem como o seu entorno”, disse o diretor-presidente do Implurb, Cláudio Guenka.
A obra tem projeto licitado pelo Implurb e aprovado junto ao Instituto de Patrimônio Histórico Nacional (Iphan). O projeto é de autoria do arquiteto Laurent Troost, com a equipe: Rejane Gaston, Juliana Leal, Nayara Mello, Erick Saraiva, Eloisa Serrão, Elter Brito, Victor Marques, Marcelo Costa, Ingrid Maranhão Tiago, Eduardo Correa, Amanda Perreira e Fernanda Martins.
Um pouco de história
Até meados de 2019, o prédio do hotel Cassina encontrava-se sem nenhuma atividade, os vãos inferiores das fachadas foram todos fechados com alvenaria, para evitar vandalismo, e a parte interna foi toda tomada por vegetação de pequeno e grande porte. Em setembro do ano passado, a Prefeitura de Manaus iniciou a limpeza da vegetação na parte interna do antigo Hotel Cassina.
O prédio do Cassina é um belo exemplar da arquitetura eclética, por apresentar ornatos e detalhes com influência de vários estilos. Ele foi construído em 1899 e recebeu o nome em razão de seu proprietário chamar-se Andrea Cassina, um comerciante italiano que atuava com o extrativismo da borracha. Foi o primeiro estabelecimento de hospedagem de 1ª classe na cidade, recebendo como hóspedes ricos comerciantes, atores teatrais famosos, políticos, coronéis de barranco e até seringalistas.
O hotel Cassina atendia classes mais privilegiadas, concorrendo com muitos outros estabelecimentos tão requintados como o American Hotel, hotel Familiar, Grand Hotel, hotel do Comércio, Internacional Hotel, hotel Estrela do Norte. Durante anos, foi considerado um dos principais points da capital.
Já em 1930, com longos anos de estagnação social e econômica, a mobília luxuosa do hotel do Andrea Cassina foi a leilão. O prédio se transformou em pensão e, progressivamente decadente, virou o “Cabaré Pé de Chinelo”, que funcionou lá pelo menos até 1957. Há uma lacuna na história da edificação, que, como outros patrimônios da Belle Époque, foi abandonado.
Os primeiros registros do edifício como ruína aparecem a partir de 1974 e na década de 80, evidências mostram um edifício que começa a ser invadido pela vegetação.
Fonte: Jornal do Commercio
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