Por Augusto César
Um negócio que não faz nada além de dinheiro é um negócio pobre
Henry Ford
Costumo escrever reflexões sobre os potenciais da Amazônia. Claro que não busco unanimidade, como prescreveu Nelson Rodrigues. Também não ouso afirmar que apresento o bom senso, afinal, Descartes asseverou que nada é mais justamente distribuído que o senso comum: ninguém pensa que precisa mais do que realmente já tenha. Mesmo assim, tenho a honra de receber belíssimas e instigantes críticas, que me convidam a escrever mais. Este texto responde a inquietação de um leitor que foi mais ou menos assim: “todos falam em potencial, mas ninguém diz como realizá-los”.
Entendo que ao dizer que há potenciais, existe uma remessa para o futuro e isso nos remete à Keynes (“no longo prazo todos estaremos mortos”), e isso nos afasta da luta pelo presente. Também observo que nos perdemos na quantidade enorme de potenciais. Estudos de neurociência já demonstraram que o cérebro exposto a muitas alternativas não escolhe nenhuma. Ainda há o entendimento que estrangeiros fazem melhores em seus países, com as suas leis. Todavia, não estamos lá e as nossas leis e costumes são outros. Ou que precisamos de muito dinheiro ou de capital estrangeiro, ou ainda que doutos forasteiros venham nos prescrever o que fazer aqui, tais como órgãos de desenvolvimento, universidades, institutos de pesquisa ou qualquer outro império de fora (do bem ou do mal). É fácil ver a história e observar que o interesse estrangeiro muito frequentemente é de saquear e quase nunca de desenvolver o outro, ainda mais em tempos da Doutrina Trump, Brexit e da China buscando (novamente) dominar a ciência.
De fato, ninguém diz como fazer porque ninguém sabe como fazer. Se alguém soubesse como fazer, já teria sido feito. Esta é a beleza deste problema: não sabemos como desenvolver a Amazônia. Admitir isso é o primeiro passo para a solução. O segundo passo, ao que me parece, é: não devemos em hipótese alguma chamar alguém de fora para nos dizer o que fazer aqui. Quem mora na região possui de maneira inerente na cultura e caráter a característica da resistência. Desde sempre a região é espoliada e saqueada de múltiplas formas. Não admitimos ou aceitamos planos que tenham estrangeiros no meio. Eles serão repudiados e sabotados por dentro. Temos em nossa região uma xenofobia dissimulada, por necessidade de sobrevivência.
Assim, a realização dos potenciais será feita por nós. Ninguém mais possui esta atribuição ou dever. Todavia, não temos a competência completa e pronta. Se já tivéssemos, teríamos feito. Assim, já que não sabemos, precisaremos nos unir em torno de algum objetivo comum, algo de ampla maioria, mas será impossível algo que possua unanimidade. Minha sugestão (e de outros que refletem sobre o tema, como Ana Assad e Dimas Lasmar) tem sido: cinco áreas, para não nos perdermos na mega diversidade. Em qualquer destes campos precisamos juntar cientistas, empresários e políticos para ajustar as leis, portarias, regulamentos em um espaço delimitado (a exemplo do que foi feito com a ZFM) e lá liberar todos para fazer o que quiserem naquele esforço. Exemplo: no município de Barcelos é prioridade desenvolver o turismo de pesca e a indústria do pescado. Fica TUDO permitido em 10 mil quilômetros quadrados naquele município, para desenvolvimento da pesca e toda a cadeia de produção industrial de pescados ou do turismo da pesca esportiva.
Para isso, será necessário combater bilhões de pessoas contrárias, pois ninguém concede a liderança. Ela é conquistada, passo a passo, dia a dia, século a século. No meio desta caminhada certamente cometeremos vários erros. Mas podemos lembrar os grandes mestres da humanidade: quem nunca errou? Assim, será possível modificar esta realidade. Enquanto não trouxermos para nós esta responsabilidade, simplificando, priorizando, fazendo… será impossível desenvolver a região. O papel é nosso e de mais ninguém. Um liberalismo na Amazônia, em um espaço delimitado, para conter nossos erros e ímpetos e que sirva para estimular nossa capacidade de empreender.
Precisamos ter a coragem de empreender de maneira legal em algo, para não nos perdermos na ultra-mega-biodiversidade. Uma prioridade, pouco espaço, conduzida por nós mesmos, com permissão para a vinda de todo o capital global, todos os melhores cientistas e empresários do mundo para aquele e apenas aquele propósito. Isso muda toda a regra do jogo. Vamos fazer?
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